Agosto de 2011, mês para a realização de mais uma edição da sempre épica concentração de Góis. Esta é uma das mais bonitas concentrações que temos no país, dado realizar-se num cenário espectacular rodeado pelas serras de Góis e Arganil, com uma oferta patrimonial e natural de grande valor.
É por isso uma das nossas eleitas para frequentar anualmente. De certo que Góis está sempre no mesmo sitio, e nunca perde a sua magia fora do tempo da concentração, mas deste modo junta-se sempre o útil ao agradável, tornando-se num momento propício para gozar do ambiente típico das concentrações, mas sempre com a vantagem de podermos fugir um pouco da confusão sempre que nos apetece – para qualquer uma das direcções da rosa-dos-ventos há sítios para visitar e descobrir.
Como já vem sendo hábito, bem antes da data já andava a chatear toda a gente para se juntar a nós nesta 18ª edição da Concentração do Motoclube de Góis. No Fórum FZ foi aberto o tópico, com inscrições e tudo, para que os batedores pudessem reservar o espaço para os vindouros, e quanto mais perto da data, mais vida havia naquele tópico onde tudo era motivo de combinação, esclarecimento ou paródia.
Da nossa parte vinha já sendo anunciada uma surpresa, uns dias antes da partida. Iríamos sair logo no dia 17 (a concentração decorreu entre 18 a 21 de Agosto), para termos a certeza de que haveria espaço para toda a gente no cantinho habitual do Forum FZ. Só ninguém sabia que a surpresa seria encontrarem o Nuno com uma nova montada na vez da velhota Super Teneré – a paixão já de longa data, BMW R1200GS Adventure! A busca pelo negócio ideal já decorria a algum tempo, e para nos proporcionar uma pré-viagem ainda mais emocionante, o dito negócio decidiu aparecer apenas a uma semana da nossa partida. E digo viagem porque não nos íamos ficar apenas pela concentração de Góis, já que dali iríamos partir por mais 5 dias pelo roteiro das Aldeias de Xisto, pelos concelhos de Arganil, Lousã, Pampilhosa da Serra, e arredores. Ora, com o negócio a decorrer, a mota estar em Leiria, mais demora menos demora, ficou definida como data de levantamento da mota… precisamente o dia 17, em que seguiríamos viagem para Góis!
A logística era simples: íamos os dois na minha mota até Leiria e a partir daí iria cada um na sua, estando oficialmente formada a nossa “GS Family”. Mas a mim fazia comichão o fantástico pormenor da minha mota ir com as malas laterais carregadas com a bagagem dos dois para 9 dias, material de logística, mais duas tendas (sim porque, sem querer ferir susceptibilidades!, aqui o pessoal das trails tem sempre espaço para bagagem das coitadinhas das Rs que não têm bagageira..eh!eh!), e ainda, pois claro, eu com o Nuno à pendura. Foram quatro… quatro!... as voltas que tivemos de dar na afinação da pré-carga para a suspensão não afundar com o peso todo! Eram 4h da manhã da véspera e eu olhava desolada para a minha maravilhosa Phoenix, absolutamente céptica de que aquilo ia resultar. Só pensava que ela se ia arrastar toda, esforçar o motor de forma arrepiante e que íamos demorar uma eternidade a chegar onde quer que fosse…
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Pois que bem me enganava! A magnifica máquina deixou-me boquiaberta e deitou abaixo qualquer réstia de cepticismo da minha parte! Aquela maravilha da engenharia alemã portou-se que nem “gente grande” e nem por um momento mostrou qualquer tipo de esforço ou dificuldade, e de Lisboa a Leiria lá nos levou com toda a nossa bagagem, pela auto-estrada (teve de ser por causa do contra-relógio), sempre a rondar os 140km/h. «Minha grande motinha, que orgulho tão grande que tenho neste monstrinho feio mas adorável que é a minha F650GS lava-orange! Nunca mais digo mal desta mota e vou aproveitar estes próximos dias para fazer as pazes contigo e voltar a aprender a conduzir-te sem medo.» - e foi assim que reafirmámos a nossa fieldade recíproca. Fieldade essa que se comprovou em todos os km de condução que tive dali em diante.
Lá fui fazendo cada quilómetro inchada de orgulho até Leiria. A fome obrigou-nos a parar ainda na estação de serviço de Santarém, mas num instantinho estávamos a chegar junto do novo tractor, que estava muito discretamente estacionado entre uma série de carros. A gana de pegar nela e seguir viagem era grande, mas tinham de se ultimar os pormenores referentes à compra… uma grande compra onde o Nuno até teve direito a levar o capacete, um Shoei modular praticamente novo, do antigo proprietário – melhor era impossível. Tirar a mota do estacionamento pareceu demorar uma eternidade, tal era a tensão de conduzir pela primeira vez uma Adventure.
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E assim a família GS se fez à estrada… A utilização de GPS era também novidade, mas uma mordomia absolutamente desnecessária já que sabíamos perfeitamente o caminho. Porém, e querendo firmar a máxima de que um GPS só serve para nos perdermos ainda mais, decidimos colocar Góis como ponto de chegada e ver por onde é que a máquina nos levava. E não é que resultou? Bastaram uns quilómetros para ele nos desviar daquele que sabíamos ser o caminho mais simples para a localidade, mas graças ao desvio, demos uma volta ainda maior passando por umas aldeolas meio vazias que nem sequer sabemos o nome.
Eram 17h00 quando chegámos ao recinto da concentração e já na companhia do Tiago e da Cátia (Yamaha Super Teneré 1200) se iniciaram os trabalhos: vedar o espaço destinado às tendas dos vindouros, montar as nossas tendas do modo mais estratégico possível (os batedores têm esses privilégios, eh eh eh) e por fim ir para junto do rio para descansar um pouco.
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Muito pouco, já que minutos depois anunciam a chegada o João e a Filipa, no seu falcão Hayabusa – uma daquelas motas que não dá para levar as tendas, que depois vão de boleia nas trails, se é que estão a perceber, eh! eh! eh!
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A interrupção deste nosso pseudo-descanso junto do rio foi compensada com um jantar cinco estrelas na pizzaria da vila, onde em boa hora nos lembrámos de ir, já que era a ultima noite em que a ementa estava completa e o restaurante mais calmo. Ainda assim tivemos de esperar pela nossa vez, o que nos valeu de uma magnífica memória: interrompendo a amena cavaqueira junto das motas, surge a rasgar o céu um meteorito, uma visão que ainda durou uns segundos, o suficiente para se dizer “Olha-me só aquilo!!!!” e os outros ainda conseguirem distinguir a cauda em chamas, até se desfragmentar ao ponto de desaparecer. Algo que não se vê todos os dias.
A quinta-feira já começou a ter mais movimento e ao longo do dia foram chegando mais motards. Mas enquanto crescia a agitação dentro e fora do recinto, os seis batedores deram-se ao luxo de ir para um pequeno paraíso local, ainda preservado por haver pouca gente da concentração em Góis. Munidos de compras para nos abastecermos ao longo do dia, e já com um belo pequeno-almoço no bucho, rumámos para a lindíssima praia fluvial de Carcavelos (não, não é brincadeira, tem mesmo este nome) – um pedaço de rocha num vale escondido por onde passa o rio Ceira, onde uma queda de água ilumina a paisagem, rodeada de verde e paz.
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Um local obrigatório para quem passe por Góis, pelo menos no Verão para se poder refrescar ou mesmo dar um valente mergulho da rocha. Um dia muito bem passado, que terminou com um jantarzinho na casa de amigos, com um valente arrozinho de tamboril feito por moi même. As chamadas começavam a cair – o pessoal ia chegando ao recinto e tudo queria saber dos batedores que prontamente se puseram a caminho. Após mais umas ajudas na logística do monta tenda, martela estaca, enche colchão, estava tudo a posto para se ir viver a animação da feira e dos concertos que já soavam. O resto da noite foi animada e ao som dos Morangotango, íamos cantando temas de vários artistas, uns mais afinados que outros, uns mais alegres que outros… e outros muito, mas mesmo muito mais alegres do que todos esses juntos! A culpa, diziam eles, era de uma barraquinha que está lá sempre, verde e amarela, que pertence a um senhor muito simpático que diz que gosta de servir bebidas com sotaque brasileiro, lima e gelo picado – eu pessoalmente peço-as sempre com o gelo inteiro, oh!, isto é… pediria se bebesse! Eh! Eh! Eh!
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A manhã acordou-nos cedo, com muito movimento (já a noite tinha sido barulhenta), e o pequeno-almoço já obrigou a esperas mais longas. A vontade era sair dali rápido para um sítio fresco e mais calmo, pelo que a Serra de Arganil nos levou até à praia fluvial de Secarias. Não contando com o episódio do almoço, onde nos vimos obrigados a uma espera ridícula que colmatou na saída de todos daquele café para o da outra margem do rio, o dia foi mais uma vez passado de molho no rio, com o grupo ainda mais composto e com mais pessoal sempre a dar conta da sua chegada ao recinto.
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O final de tarde foi propício para os encontros com os recém chegados, mas infelizmente também foi quando o azar (ou descuido) minou a serra de Góis, provocando um grande acidente em que estiveram envolvidas vários motards. Resultou no falecimento de um companheiro das duas rodas (nosso desconhecido), soubemos nós mais tarde. Nestas alturas a diversão e o espírito do evento fazem com que nos deixemos levar pelo entusiasmo, facilitando acontecimentos totalmente dispensáveis. É essencial nunca nos esqueçamos da nossa fragilidade e vulnerabilidade – não somos super heróis!
Os mais distraídos nem deram conta do trágico episódio, e confirmada a presença de todos os nossos mais próximos, a animação e o convívio ajudaram a desvanecer o acontecimento das nossas cabeças - se bem que admito que me lembrei várias vezes daquilo, pois estive durante umas horas (não foram assim tantas, mas pareceram) sem saber da minha mãe que tinha chegada prevista a Góis para aquela altura. Fiquei sim, mais descansada, quando consegui falar com ela. Por essa altura soavam já as guitarras de Tara Perdida, a abrir mais uma noite de grande animação e algazarra que não deram nem um minuto de tréguas a quem, nas suas tendas, tentava dormir um pouco…
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O Sábado foi o dia do grande almoço do Fórum FZ, e na hora combinada lá saiu calmamente a caravana rumo ao restaurante Gota d’Água (em Secarias), para um magnífico repasto. Ainda tivemos direito a assistir em directo ao resultado de mais uma falta de cuidados, desta vez de uma moto-quatro que numa curva fez uma chopper ir ao chão – felizmente sem provocar quaisquer danos para além do susto do coitado que caiu. Mas mais uma vez fica aquela sensação de que por causa de gente inconsciente se estragam convívios destes… Mas nós chegámos inteiros ao restaurante e lá nos deliciámos com várias especialidades, como as espetadas de marisco, os grelhados, e todas essas coisas que só dá vontade de lamber os beiços!
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Como o dia ameaçava chuva não ficou definido nenhum plano para depois de almoço, se bem que a ideia inicial seria uma voltinha pelos arredores. Mas com o céu a torcer o nariz até mesmo pingar, houve muitos que também torceram o nariz à ideia e, ajudados pelo cansaço, preferiram ficar pela zona para mais banhos. Ora eu e o Nuno e mais meia dúzia de valentes não nos fizemos rogados; desafiamos o boletim meteorológico e rumámos ao Piódão, passando pela Fraga da Pena, com a ideia de só parar para visitar no regresso.
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Mas demorámo-nos nas magníficas curvas até à povoação escondida naquele vale do Piódão, onde ainda nos deixámos também ficar descontraidamente numa esplanada depois de bebericar e provar uns licores da região. Resultado: a chuva fartou-se de ameaçar e decidiu mesmo cair do céu, apressando os valentes novamente rumo à origem. Mas nem isso estragou o passeio, que foi excepcional!
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Mais uma noite de confusão e barulho, prometendo um grande concerto desse artista de renome que era!!! …o João Pedro Pais… (perdoem-me os fãs a minha falta de entusiasmo). Ainda me aguentei uma ou duas horas ali de pé, convencida que ainda ia saltar e curtir com os Killer Queen, mas para grande desilusão o espectáculo deles foi cancelado. O grupo dos seis batedores deu-se como derrotado e teve mesmo de ir para a zona da restauração sentar-se na esplanada sem aguentar mais estar de pé. Para ser ainda mais drástica, eu optei mesmo por adormecer em cima da mesa, por isso não foi preciso muito mais tempo para ir definitivamente dormir, desta vez para a tenda. Tive ainda oportunidade de ficar extasiada ao reparar na enorme multidão que se encontrava já a ver João Pedro Pais! Upa, upa… vou mas é para a tenda!
E devo ter adormecido tão profundamente que nem mexi toda a noite, dado o enorme torcicolo com que acordei, justamente na manhã do desfile pelo concelho. Maldita sorte! Pior nem era o desfile, era o facto de termos ainda muitos kms programados. Acabei por ir à pendura na minha própria mota, conduzida pelo Nuno que tendo a Adventure à 4 dias apenas, não se queria arriscar a levar-me nela, receando algum desequilíbrio. Acho que tinha sido melhor eu própria ter levado a mota, ou não ter ido de todo ao desfile, que para mim acabou à porta da farmácia a comprar todas as formas existentes de Voltaren.
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De regresso ao recinto, já estava tudo de partida, restando já poucas tendas. Não fomos excepção e com um ritmo a meio-gás arrumámos tudo e despedimo-nos de mais uma edição da Concentração de Góis. Para o ano, estejamos ou não por lá, que seja tão boa ou melhor – é que esta é sem dúvida e sempre será das mais bonitas concentrações que temos em Portugal.
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Vera "Phoenix" Gaspar