Crónicas em duas rodas: Maravilhosa Évora
No meio de uma estação algo incerta que ninguém acredita que é Verão e entre a ameaça de apanhar ou um calor abrasador ou uma chuva infernal, decidimos reservar um fim-de-semana em duas rodas para conhecer Évora. Desta vez a preparação foi levada a cabo pelo Nuno e a mim apenas coube a árdua tarefa de esperar que chegasse o dia da partida. As malas já quase nem se afiguram como preparação da viagem, pois vamo-nos começando a habituar a fazer essa mini-bagagem que quase parece que já se faz sozinha.
Dias antes tinham estado em Lisboa temperaturas acima de 40ºC, mas a sorte bateu-nos à porta e a tarde de sexta-feira chegou com um tempo perfeito para rodar. Como o hotel que reservámos tem piscina, decidimos seguir pela auto-estrada até Évora para ainda aproveitarmos o fim de tarde para um mergulho. Mas com um Tom-Tom que até parece que já nos conhece, não chegámos ao destino sem antes fazer um pequeno trilho fora de estrada.
Ainda que tenhamos decidido confiar no GPS para seguir esse percurso, duvidas surgiram quando no final desse estradão a maquineta nos indicava que já tínhamos chegado ao destino – mas hotel, nem vê-lo. Decidimos então colocar em prática o plano “Contacto com os Conterrâneos”, e rapidamente o Nuno encontrou um simpático senhor a quem perguntou se conhecia a quinta e onde ficava. “Nã tem nada que saberi! É só seguirem a estrada que vêem já a entrada ali à dirêta.” E agradecidos lá fomos, sem conseguir evitar brincar com o sotaque alentejano nos metros que se seguiram até à porta da quinta (abençoados intercomunicadores, fazem com que a viagem seja ainda mais porreira).
A Quinta dos Bastos fez jus às imagens da sua divulgação e não demorou até nos rendermos à calmaria daquele sitio pacato, digno do descanso à Alentejana. A piscina esperava-nos, mas como a tarde se pôs mais fria do que eu estava à espera, o mergulho foi apenas para os mais corajosos.
Para oficializar a chegada ao Alentejo deliciámo-nos ao jantar com umas Migas e Açorda típicas, numa esplanada da Praça do Giraldo, bem no centro da cidade.
Mas a noite ainda terminou em farra, já que na cidade decorria a feira de São Pedro, pelo que ainda tivemos direito a adrenalina num carrocel, waffle de chocolate e até à apreciação dos cavalos do cavaleiro Rouxinol & Cia., presentes para a Corrida de Touros daquele serão.
No Sábado, depois de um valente pequeno-almoço, fizemo-nos à estrada para os passeios planeados. Começámos por visitar o Templo de Diana, património mundial que marca a passagem pelos romanos em território nacional.
As nossas meninas, que não haja duvida que se enquadram em qualquer paisagem ou monumento, não pararam de suscitar a curiosidade dos transeuntes.
Seguimos para a igreja de São Francisco, onde se encontra a Capela dos Ossos, mas o tempo começou a ameaçar chuva e optámos por seguir logo para as visitas em “campo aberto”, porque assim se viesse chuva para o resto da tarde, tínhamos as visitas exteriores já todas feitas.
Rumámos então, por estradão, aos monumentos megalíticos, começando pelo Menir dos Almendres.
Mais à frente encontra-se o Recinto Megalítico de Almendres, considerado um dos mais antigos monumentos da Humanidade, tendo sido construído à cerca de 7000 anos (2000 anos antes do famoso Stonehenge).
Junto destes menires e correspondentes informações estava um mapa de outros monumentos do género que se encontram na zona, e apesar de não estar nos nossos planos, isso levou-nos ao destino seguinte: a Anta Grande do Zambujeiro.
Crê-se que este seja o monumento megalítico funerário mais alto do mundo – e a sua dimensão é realmente surpreendente… não conseguíamos parar de nos questionar como é que Homens terão conseguido mover aquelas pedras enormes!
No caminho de volta encontrámos uma simpática manada de vacas (ou vitelos, pois eram bastante pequenos) e parámos para nos metermos com elas depois de vermos a curiosidade com que olhavam para as nossas motas. Desligámos os motores, e tentámos encorajá-las a aproximarem-se da cerca. O engraçado é que elas estavam realmente curiosas mas ao mesmo tempo muito receosas, e começaram a marrar o único macho da manada como que a dizer “Vá, tu que és o macho aqui, vai lá ver se aquilo não nos vai fazer mal”. E ele lá se aproximou de nós. Só depois o verem deliciar-se com umas festinhas, é que elas se foram aproximando ainda desconfiadas. Mas pouco depois já ali estava todas junto da cerca, à espera de mais festas e a tentarem provar as nossas luvas e casacos.
Continuámos o passeio para um outro ponto de interesse que não estava nos planos mas que encontramos no dito mapa anterior – o castelo do Giraldo. Mais uns quilómetros de terra batida e algumas pedras levaram-nos até um local onde realmente deverá ter existido um castelo, porém os vestígios eram umas ruínas tão sumidas que logo o apelidámos de “Castelo Invisível do Giraldo”. Valeu pela vista e pelo trilho que nos levou até lá.
A chuva que antes ameaçava o dia não chegou a aparecer e continuámos os nossos planos depois de um ligeiro snack e de uma passeata pelo jardim publico. Também aqui Évora me surpreendeu, com a sensação de que a cada esquina irá surgir um monumento histórico – pois que dentro do jardim encontrámos mais uma ruína, mas esta era uma de “faz-de-conta”. De seu nome Ruínas Fingidas, este conjunto de peças que pertencia a um outro Palácio que se situava junto da Sé, foi montado propositadamente para ter aquele aspecto.
Atravessando a rua já nos encontrávamos novamente junto da igreja de S. Francisco para conhecer a Capela dos Ossos. Comprado o bilhete (com o suplemento de 1€ para poder tirar fotografias) encaminhámo-nos para o conhecido monumento que pretende representar a transitoriedade da vida, ideia sublinhada pela mensagem escrita na entrada: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos.”
É realmente algo único, e tão extraordinário que apesar de ter evocado várias vezes à minha memória mente o facto de estar perante ossadas verdadeiras, não conseguia elevar-me à amplitude dessa realidade, pois o que a minha mente optava por assimilar era que eu estava perante mais um monumento como qualquer outro feito de pedra.
No fundo junto ao altar encontram-se os túmulos dos monges fundadores da capela e, pendurados na parede do lado direito, os corpos de uma criança e um adulto. Segundo a lenda, eram pai e filho que foram amaldiçoados pela mãe, em quem batiam. Pela sua morte esta desejou que a terra nunca aceitasse os seus corpos, tendo sido impossível sepulta-los.
À saída da capela a curiosidade por uns cânticos de coro levaram-nos até ao interior da igreja de S. Francisco, cuja dimensão é também esmagadora, e fiquei a admirar por uns minutos aquele tecto rude e despido de pedra (que me deixou apaixonada).
Antes de voltarmos para o hotel (e para mais uma tentativa de mergulho na piscina), quisemos passar pela Praça do Giraldo, que apenas vimos durante a noite, espreitando ainda a Igreja da Graça pelo caminho.
O dito mergulho só veio na manhã seguinte e mesmo assim foi “puxado a ferros”.
Feito o check-out demos uma última volta por Évora, sendo que tinha ficado em falta conhecer a Sé Catedral.
Acabou por ser uma visita rápida para apreciar apenas a fachada exterior.
Dali seguimos para o litoral na esperança de ainda fazer um pouco de praia em Tróia, mas o tempo pregou nova partida e o vento era tanto que até na esplanada estava desagradável. Mas isso não nos preocupou, pois tínhamos a bagagem cheia de quilómetros e um belo passeio para recordar. Como sempre, fica a vontade de mais.
Vera “Phoenix” Gaspar