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Saltos Altos, Duas Rodas e M&Ms

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

23
Set18

Grão a grão se enche a galinha de sapo

Vera

Muitos sapos engolimos nós na maternidade.

Não interessa que tipo de pessoas somos: de ideias muito fixas, mais ou menos influenciaveis, de mente mais aberta... É que não interessa mesmo. Haverá sempre qualquer coisa sobre a qual tínhamos a certeza absoluta que íamos fazer de determinado modo e que depois nos sai o tiro pela culatra. 

Eu tive exatamente esta experiência com a minha filha. Do alto do meu "achismo" quis que ela se habituasse a dormir sozinha no quarto dela logo aos 4 meses (que absurdo isso é para mim agora), obrigando-me a levantar duas e três vezes por noite para lhe ir dar mama (eu só podia ser louca!!!) e mesmo completamente exausta destas viagens noturnas entre quartos achava que era no melhor que estava a fazer. 

 

Como educadora sempre ouvi e tive como absolutas as teorias de que a criança deve aprender a dormir sozinha (what?!),  e que se preciso for, deve chorar um pouco e não ser respondida (WTF?!), coisa que eu cheguei mesmo a recomendar alguns pais de fazer (ok, estou a autoflagelar-me mentalmente nesta parte; felizmente que não o chegaram a fazer).

Até que se deu aquela fantástica transformação que fez de mim mãe. Mas ainda assim levei meses a insistir na teoria e prática, até porque por acaso funcionava (excepto no que diz respeito a eu parecer uma morta viva devido às minhas viagens noturnas para amamentar).

 

Até que a Mariana ganhou vontade própria e se manifestou. Não queria grades à sua volta e para mim adormecê-la era um martírio pois o berço era um autêntico entrave para poder aconchegá-la até que adormecesse. Ora ficava quase uma hora para a adormecer no cadeirão para depois a pousar no berço em câmara lenta e rezar para não acordar (estão a ver a famosa imagem de pousar 1kg de TNT dentro do berço?), ora a metia no berço e ficava toda curvada para estar quase em cima dela para que sentisse a minha presença, desistindo a pouco e pouco dessa posição para ir escorregando até ficar de joelhos no chão e só com um braço pendurado dentro do berço, que dois minutos depois ficava dormente e eu tinha de o tirar de lá de dentro como se fosse um presunto fumado, totalmente inanimado. Não dava, era desesperante e tinha de haver alternativas! 

 

Foi na procura por essas alternativas que ouvi falar pela primeira vez do quarto Montessoriano, que acabamos por adoptar. Comprámos um estrado e um colchão de adulto e colocamos no chão, com um pouco de tapete tatami à volta. E efetivamente foi uma solução vencedora, pois como facilmente me deitava na cama dela era simple adormecê-la.

Mas eram mais as vezes que eu acabava a adormecer no quarto dela do que ir apenas adormecê-la. Era frequente acordar de madrugada com as luzes todas acesas, desconfortável porque estava com a roupa ainda do dia anterior vestida, com aquela sensação de ter deixado tudo a meio e nem por isso ter dormido bem até aquela hora. Era frustrante. Mas, OK... Ao menos conseguia adormecer a miúda! 

Até que chegaram as viroses e aí não havia como dar a volta, era mesmo na nossa cama que dormia, mamava, adormecia e acordava. E era tão mais simples!!! Dormiamos todos muito melhor e muito mais felizes. 

 

 

O descanso era efetivo o que nos permitia aproveitar muito melhor o tempo que estávamos acordados. E depois de uma dessas viroses, não voltou para a cama dela tão depressa. Pelo menos não definitivamente - há dias em que quer lá dormir e até tivemos a rotina de lá se deitar diariamente mas acabava por vir para a nossa cama a meio da noite à mesma. 

 

Quando engravidei de novo, a rotina passou mesmo a ser toda feita na nossa cama pois a determinada altura eu própria precisei de poder ter o conforto e o espaço que só a cama de casal me ofereciam pois sabia que ia adormecer com ela. 

 

Por isso assim foi desde o começo com o Miguel. Foi montado o berço next2me ao lado da cama, de forma a ele dormir junto a mim mas em segurança, e é lá que dorme desde que nasceu, sempre ao meu lado e mamando as vezes que precisa durante a noite (a maior parte delas quase sem despertarmos). Quando me perguntam se ele dorme a noite toda, respondo que sim pois efetivamente é o que acontece, seja mamando apenas uma vez ou trinta vezes ao longo da noite. Sinto-me como se fosse a mãe de um bebé já com quase dois anos porque a verdade é que só quando a Mariana tinha essa idade é que entrei no sistema de "breastsleeping" que me permitia amamentar durante a noite sem prejudicar o nosso descanso. E é tão bom e recomendo!!!  É e assim será até serem eles querer sair da nossa cama.

Quanto às teorias de que o co-sleeping dá origem a adultos dependentes e inseguros, bastava apenas conhecerem a Mariana para verem que ela é muito mais independente, segura e destemida do que muitos adultos que dormiram toda a vida sozinhos. Mas para quem não conhece a Mariana, deixo sempre alguns argumentos que valem a reflexão:

- Qual é o adulto saudável e emocionalmente equilibrado que não gosta de dormir acompanhado?

- Se os casais gostam de dormir juntos pela companhia, pelo conforto, pela manifestação do carinho que sentem um pelo outro, porque é que uma criança tem de se habituar a dormir sozinha? 

- Se somos mamíferos e todos os mamíferos vivem em comunidade fazendo do descanso em conjunto uma das formas de sobrevivência, porque negamos esse instinto aos nossos bebés? 

 

E a minha preferida... 

- Será que na idade da pedra os casais se mudavam para uma caverna T2 quando tinham um filho?

 

Para terminar partilho aquilo que a Mariana me respondeu ao perguntar-lhe uma vez quando é que ela ia passar a dormir sempre no quarto dela: "Vou quando o Miguel crescer e for comigo." E para mim esta resposta disse-me tudo o que eu precisava de saber.

Acima de tudo o que é mais importante é que optemos com sensatez, aceitando que não existe apenas uma forma correta de fazer as coisas, pelo bem dos nossos filhos e pela nossa sanidade mental. 

O que funciona para nós pode não ser o que funciona para outra família. Mas o que importa é que o que se adopte como sistema funcione do melhor modo para todos e isso não vem nos livros, temos de ser nós a descobrir. 

 

Mesmo engolindo muitos sapos!!! 

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