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Saltos Altos, Duas Rodas e M&Ms

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

19
Out18

Riqueza dê cá um beijinho à sua avó

Vera

Não sei quem é o senhor que chamou de violência obrigar um neto a beijar uma avó e pouco interessa quem seja. Até ia agora procurar o nome dele no Google mas a verdade é que não interessa minimamente para o que venho partilhar.
Para mim, ele é apenas uma pessoa que partilha e defende exatamente o meu ponto de vista no que diz respeito à educação. E que como eu se preocupa com os contornos subtis (ou às vezes nem tanto) de alguns hábitos enraizados na nossa cultura e sociedade, podendo vir a ter repercussões futuras que por vezes nem imaginamos (mesmo quando elas depois efetivamente se demonstram).

Vou contar agora uma situação chocante!!!
A minha filha há duas semanas contou-me que um coleguinha dela estava a chorar e que a auxiliar se zangou com ele e o levou para a sala dos bebés. Fiquei com as antenas no ar. Como assim? A escola que escolhi supostamente tem práticas positivas e eu agora levo com isto? Falei com a
educadora para perceber como deve ser o contexto da situação, ela lá averiguou e percebeu que efetivamente a Mariana me estava a contar tal e qual o que tinha acontecido. Ficou tudo esclarecido e ficou a mensagem passada de que não gostámos da situação.

"Uiii, que pais tão cagões!!!"

Se ser cagão é estar atenta ao que se passa na vida escolar dos filhos, ser presente e saber ver além das próprias situações, então eu não sou cagona, eu sou a própria bosta em pessoa.
Numa situação como a que partilhei acima talvez a maioria das pessoas tenha uma leitura como "não é ir à sala dos bebés que o vai torturar", porque não, na verdade não é. Mas é a forma como facilmente foi humilhado, como foi impedido de chorar (se uma criança chora é porque tem uma necessidade que não está a ser atendida) e é principalmente o exemplo que é dado a todos os outros miúdos. Porque a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "Eu não quero que a minha filha aprenda a humilhar os outros conforme viu aquele menino ser humilhado naquela situação." Porque sim, é humilhação mesmo que numa dimensão aparentemente insignificativa aos olhos do adulto - mas que aos olhos da criança tem uma dimensão muito maior.

"Uiiii vê lá se por causa disso a criança fica traumatizada para a vida."

Eu não me considero uma pessoa traumatizada. Sou extremamente bem resolvida, confiante, assertiva, fiel aos meus princípios e sei que sou inspiração para muitas pessoas pelos melhores motivos. Luto pelos meus ideais, tenho dois negócios de sucesso, uma vida familiar super feliz. Mas tenho os meus traumas, sim. E todos eles relacionados com situações de humilhação em meio escolar que durante uma grande parte da minha vida me fizeram ser uma pessoa muito mais introvertida, muito menos confiante. Graças à forma como fui educada fui aos poucos ultrapassando algumas dessas más memórias. Educação essa que agora replico para os meus filhos e que tem tanto em comum com o tipo de parentalidade que tem estado em discussão. Inclusive no que diz respeito a beijar os avós e outros adultos.

"Ah então se és tão bem resolvida é porque não te traumatizou."

Bem, de facto não tenho nenhum trauma que me tenha obrigado a ir para um psicólogo ou a recorrer a psiquiatria, mas o nosso objetivo como pais é andar a medir se isto ou aquilo vai traumatizar só um pouquinho ou fazer por não traumatizar de todo? É que eu posso não ter ficado com sequelas que me levem hoje a esfaquear pessoas no meio da marginal, mas o que é certo é que se me lembro de determinadas situações como se tivessem acontecido ontem, por algum motivo é. 
E ainda na onda dos beijinhos, jamais irei esquecer aquele dia em que, por ter levado pontos no céu da boca após a extração de um dente (sim... nasceu-me um dente no céu da boca, contem lá uma melhor que esta!) eu pude atravessar Carcavelos inteiro toda inchada e de costas quentes por ter a minha mãe a explicar a todas as velhotas que passavam por mim que naquele dia não me podiam apertar.

Portanto sim, até temos os nossos fantasmas. Vá lá que a nós nos deu para aplicar o inverso na educação dos manos M&Ms, muito graças ao esforço que tivemos da parte das nossas mães de reforçar em casa as atitudes contrárias e de nos valorizarem enquanto individuos, porque na maioria das vezes o que acontece é que quem sofre as humilhações, os abusos, as agressões físicas, verbais ou psicológicas, perpetua o comportamento junto de gerações seguintes (o que já está mais que estudado e validado pela comunidade científica). E isso tanto pode significar aplicar o mesmo tipo de comportamento no seio familiar quando a pessoa se tornar pai/mãe, como pode significar fazê-lo num meio empresarial quando a pessoa esteja num cargo com poder hierárquico sobre outras pessoas ou até mesmo num meio escolar se for uma pessoa que enverede pela carreira na educação.

As "pequenas" coisas podem não ser assim tão pequenas quando analisadas a uma perspetiva mais alargada. E se formos a pensar bem, na nossa própria infância tivemos uma série de "pequenas coisas" que hoje dispensavamos recordar e que sabemos que em nada de positivo influenciaram a pessoa que somos hoje.
Este é, portanto, um assunto de importância não só a nível familiar como a nível social. Estes pequenos detalhes são o que pode vir a fazer a diferença no futuro de uma criança entre dizer e manter um "não" ou permitir que uma figura de aparente poder superior abuse de si. Seja o patrão, seja um craque da bola.

Para terminar vou já de antemão publicar uma ou duas fotos que tenho aqui guardadas da minha pessoa para poupar ao trabalho de irem vasculhar as minhas redes sociais. Assim podem já enxovalhar-me à vontade e dizer que a minha opinião não é válida porque gosto de me vestir de preto e ouvir bandas de metal.

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13
Ago18

Ninguem disse que era fácil, mas não custa tentar...

Vera

Há seis anos eu lançava-me numa das maiores aventuras da minha vida...

Com apenas 25 anos agarrei uma oportunidade que me surgiu de repente e sobre a qual tive apenas dias para decidir se arriscava ou não...

Não...

Não vos estou a falar na Oriflame.

Ha seis anos atrás e com apenas 25 anos eu decidi agarrar numa creche que tinha acabado de avisar os pais todos que dali a 3 semanas em Setembro, já não iria abrir. E eu decidi que ia abrir sim!!!

Foram 3 semanas apenas em que tive de voltar a relembrar tudo sobre o que era a rotina, não de uma sala de creche mas de toda uma escola, após alguns anos afastada da área. Apenas 3 semanas para tentar falar com algumas das famílias das quais tinha por milagre conseguido o contacto para tentar que ainda ficassem ali. E a maioria já tinha arranjado escola...

Abri dia 3 de Setembro a Escolinha da Kika com apenas 4 crianças. E assim foi no primeiro mês... Semana a semana a escola ia crescendo um pouquinho mais - fosse em novas crianças, em novas funcionárias, em formações, em novas e melhores condições... Nesse ano letivo terminamos já com cerca de 20 crianças inscritas.

Fomos crescendo e aprendendo... Definimos cada vez melhor o que éramos e o que queríamos. Construí a escola dos meus sonhos e à imagem daquilo que sempre acreditei ser o ideal.

As vagas começaram a ficar preenchidas cada vez mais cedo de um ano para o outro. As listas de espera foram aumentando... Apenas 3 anos depois a escola tinha já a lotação completa e o processo de licenciamento que anteriormente ninguém se interessou por concluir ficou feito! 

Começamos a ser procurados por famílias que vinham de cada vez mais longe porque faziam questão de ter ali os seus filhos. Atraímos por mais do que uma vez e mais do que um motivo a comunicação social... Começamos a ser recomendados por profissionais de saúde, por outras escolas e, principalmente, por muitas famílias!

Temas como amamentação, comida saudável, baby led weaning, respeito pelo ritmo da criança, baby wearing, inclusão da família na vida escolar, disciplina positiva, educação consciente... Passaram a ser temas que nos definem. E definem tão bem!!!!

 

Hoje olho para tudo aquilo que construí e sinto um orgulho e realização enormes!!!

 

E tudo porque naquele momento, há seis anos e com apenas 25 anos, não tive medo e arrisquei!!! E se não o tivesse feito?

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