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Saltos Altos, Duas Rodas e M&Ms

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

02
Set18

A dança perfeita

Vera

Estar grávida para mim, foi sempre sinónimo de interrupção das duas rodas. Mas nesta gravidez acabei por ter as minhas viagens no pensamento mais do que alguma vez imaginei. 

 

Como já falei antes, escolhi ser acompanhada por uma Doula durante a gravidez para que estivesse o mais preparada possível para o trabalho de parto. Para quem não sabe, o trabalho da Doula passa pelo apoio físico e emocional da mulher e do casal, pelo que as sessões durante a gravidez são da maior importância por darem à mulher toda a confiança que precisa para o seu momento e ajudarem o pai a desempenhar o seu papel de "Guardião do Parto" (esta é uma definição muito resumida do trabalho de uma Doula, sobre o qual irei escrever com mais pormenor mais tarde). 

Numa das nossas primeiras sessões, a nossa Doula, a Cristina, falava-nos do papel do pai durante o trabalho de parto e de como é importante que ele conheça bem os desejos e escolhas da mulher, a forma como a deixar confortável, e outros pormenores tais, para que no momento em que ela esteja a lidar com as contrações ele possa ir ajudando sem que seja necessário a mulher desfocar-se do seu processo. Seria então como se estivessem numa dança em que um segue os passos do outro... 

Ora aqui é que o quadro ficou borrado!!! O Nuno tem dois pés esquerdos e pensar neste papel com um desempenho semelhante às tentativas dele de dançar era meio caminho andado para as coisas não correrem de feição! 

Mas nós somos um casal, a sincronia há de existir em algures na relação senão não estaríamos juntos, certo? 

Foi então que me lembrei do quão maravilhoso é quando andamos de mota juntos!!! Aí sim, tal como uma dança, completamos os nossos movimentos, desenhamos na estrada a nossa trajetória como se lessemos os pensamentos um do outro. Seguimo-nos por quilómetros sem trocar uma palavra mas antecipando cada mudança de direção, cada ultrapassagem, cada provocação para ir mais rápido ou curvar mais. As nossas motas fazem um autêntico bailado em sincronia e essa era a comparação perfeita para o que precisávamos enquanto decorresse o trabalho de parto! 

 

Mas não ficou por aqui.

Também a lidar com as contrações pude beneficiar da minha experiência nas duas rodas. 

 

A Cristina propôs-me a fazer  uma analogia com alguma circunstância na minha vida em que, tal como uma contração, eu fizesse algum esforço sabendo que na altura mais difícil desse esforço estivesse perto de alcançar um objetivo. Lembrei-me então do Lés a Lés, no qual eu participei já algumas vezes. Para quem não sabe do que se trata, o Portugal de Lés a Lés é uma espécie de prova onde fazemos mais de 1000km em apenas 3 dias, que tem etapas, tempos, prazos. O objetivo final é conseguir chegar ao destino (gozando de um passeio turístico fenomenal) passando por todos os pontos do percurso, dentro do timing estabelecido (ainda que seja uma viagem de passeio, não uma corrida).

Mas chega a uma altura que começa a custar. Doem as mãos, doem as costas, os braços, a cabeça. Estamos cansados, desconfortáveis, com fome e sede. Mas em cada etapa que alcançamos permitimo-nos a descansar um pouco e voltamos a arrancar pois sabemos que estamos cada vez mais próximos de chegar ao fim e que quando atingirmos aquele ponto em que já só queremos desistir, chegamos à meta!

Assim é com o trabalho de parto, em que cada contração nos faz ficar mais próximas do objetivo que é termos o nosso bebé, e que entre cada pico de dor temos alguns momentos que nos permitem recuperar e ganhar coragem para a seguinte. As dores vão aumentando conforme estejamos mais próximas do nascimento do bebé e é precisamente na fase em que achamos que já não vamos aguentar mais que o final esperado está próximo. É tão simples como isto! 

 

Mas claro que tudo isto requer uma preparação interior para que se possa lidar com o processo e aceitar a dor. O problema de hoje em dia é que as pessoas não aprendem a lidar com a dor pois desde cedo com qualquer coisinha insignificante se procura de imediato medicação e analgesia. Isso, juntamente com a excessiva medicalização do parto (que como se sabe leva muitas vezes à interrupção do normal decorrer do trabalho de parto e até a complicações no nascimento) fez com que se perdesse um importante elo de partilha entre mulheres do testemunho do parto natural. Pelo contrário, os testemunhos que mais se partilham são os da desgraça, do sofrimento, do terror. Com isto é normal que haja poucas mulheres com exemplos à sua volta que lhes permitam desejar ter um parto natural e terem a confiança necessária para aceitar que o seu corpo é capaz de parir naturalmente conduzindo-as durante todo o processo. 

 

Por isso é que considero os relatos de partos tão importantes. Somos nós que temos o poder de nos empoderarmos umas às outras e é isso que me leva também a partilhar as histórias com finais (e meios) felizes. Porque na verdade esses até são os mais comuns, ainda que pareça o contrário. 

A reflexão é outra das formas de nos prepararmos  para esses momentos. A minha acabou por ser feita com a ajuda deste mundo das motas, mas cada mulher terá em si a analogia e a força que precisa para encarar este momento. 

E se acharem que não a têm, poderão sempre procurar o apoio de uma Doula, que vos ajudará a encontrá-la. Mas isso fica para um outro post! 

 

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13
Jul18

Espécie: Palpiteirus incomudus

Vera

Quando uma mulher se torna mãe existe todo um conjunto de pessoas que imediatamente a promove a "propriedade alheia" e como tal sente-se na obrigação de, no alto da sua (não) formação médica e científica, a criticar e desacreditar em tudo o que faça. A esta classe de gente se dá o nome de palpiteiros, os tais que muita vezes sem conhecimento de causa, cospem barbaridades à velocidade da luz e colocam uma mãe no fosso da dúvida e incompetencia em três tempos. 

 

Para essas pessoas existem apenas dois motivos para um bebé chorar: fome e cólicas. E se é fome é porque o leite é fraco. Então toca de espetar leite artificial na criança - a maior parte das vezes nem é porque a mãe assim o queira mas porque tanto a fazem acreditar que o seu bebé só pode ter fome que cedem à sua pressão (e a todas as consequências que isso futuramente traz). E se é cólicas é porque precisa de tomar o medicamento. Toca a experimentar as gotas milagrosas - que de milagroso não têm nada senão não existia 23 ou 48 variedades diferentes delas (as quais cada família experimenta pelo menos umas 5 diferentes até encontrar as que "resolvem" o problema).

 

Mas estas novas mães podiam ser pessoas diferente. Podiam ser pessoas a quem os palpiteiros não incomodavam e assim se sentiam muito mais tranquilas e seguras. Alguma têm a sorte de estar bem informadas e assim não sofrerem com os ataques deles, qual escudo protetor anti-desinformação. 

 

E sabem o que é ainda mais magnífico? São os bebés destas mães! São bebés que não choram de fome e cólicas (apenas). São bebés que choram por frio e calor... São bebés que choram por barulho e claridade... São bebés que choram por cansaço e por medo... São bebés que choram... só porque sim ou porque não! E um bebé que tenha mais motivos por que chorar, é um bebé feliz pois é aquele a quem a mãe estará segura e tranquila o suficiente para o poder "ler" e poder responder com toda a segurança à real necessidade que ele está a manifestar. 

 

Palpiteiros: as mães e os bebés são todos diferentes. Querem ser realmente prestarveis? Parem de dizer disparates a mães, que para ansiedade já lhes basta esta novidade de ter uma cria que cuidar!

 

Mães: confiem nas nossas intuições e procurem quem vos queira realmente ajudar e entenda dos assuntos que vos suscitem duvida. Tudo o resto "Wave and Smile!"

 

#maedeMMs #raispartaospalpiteiros #voucomeçaracolecionarperolasdepalpiteiros

07
Jun18

Dá tempo a ti mesma...

Vera

Esta é a parte que não te contam... 

O pós-parto não vem nas revistas, pouco é partilhado nos feeds de Facebook, poucas mulheres gostam (ou conseguem sequer embrar-se) de se ver ao espelho depois de terem trazido um novo ser ao mundo. 

E quando existe essa partilha, na maioria das vezes vem acompanhada com a mensagem "apenas 4 semanas após o parto e tenho o meu corpo de volta!" 

 

Mas todas somos diferentes... fizemos barrigas diferentes e iremos regressar às formas de maneira diferente (ou viremos a ter formas diferentes até). Mas calma... Não é nenhuma corrida... Temos tempo!!! 

Dá tempo a ti mesma.... 

O nosso corpo passou por algo maravilhoso e levou cerca de 9 meses a transformar-se. Seria o mais óbvio que lhe dessemos pelo menos 9 meses a voltar à sua forma anterior. 

Mas a sociedade não te quer dar nove meses? Mas sabes que mais?? O corpo é teu...! 

 

(Edit: este não é um desabafo. É uma mensagem de força para todas as recém mamãs que não se conformam porque "ainda" não cabem na roupa anterior à gravidez. ;) ❤ )

 

#datempoatimesma #ocorpoemeu #4weeksNOTpregnant

 

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