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Saltos Altos, Duas Rodas e M&Ms

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

Crónicas e reflexões da mãe, motard e mulher dos sete ofícios.

04
Jul12

Crónicas em duas rodas: Maravilhosa Évora

Vera

No meio de uma estação algo incerta que ninguém acredita que é Verão e entre a ameaça de apanhar ou um calor abrasador ou uma chuva infernal, decidimos reservar um fim-de-semana em duas rodas para conhecer Évora. Desta vez a preparação foi levada a cabo pelo Nuno e a mim apenas coube a árdua tarefa de esperar que chegasse o dia da partida. As malas já quase nem se afiguram como preparação da viagem, pois vamo-nos começando a habituar a fazer essa mini-bagagem que quase parece que já se faz sozinha.


Dias antes tinham estado em Lisboa temperaturas acima de 40ºC, mas a sorte bateu-nos à porta e a tarde de sexta-feira chegou com um tempo perfeito para rodar. Como o hotel que reservámos tem piscina, decidimos seguir pela auto-estrada até Évora para ainda aproveitarmos o fim de tarde para um mergulho. Mas com um Tom-Tom que até parece que já nos conhece, não chegámos ao destino sem antes fazer um pequeno trilho fora de estrada.

 

Seguindo o GPS para encontrar o hotel 


Ainda que tenhamos decidido confiar no GPS para seguir esse percurso, duvidas surgiram quando no final desse estradão a maquineta nos indicava que já tínhamos chegado ao destino – mas hotel, nem vê-lo. Decidimos então colocar em prática o plano “Contacto com os Conterrâneos”, e rapidamente o Nuno encontrou um simpático senhor a quem perguntou se conhecia a quinta e onde ficava. “Nã tem nada que saberi! É só seguirem a estrada que vêem já a entrada ali à dirêta.” E agradecidos lá fomos, sem conseguir evitar brincar com o sotaque alentejano nos metros que se seguiram até à porta da quinta (abençoados intercomunicadores, fazem com que a viagem seja ainda mais porreira).

 

Contacto com conterrâneo


A Quinta dos Bastos fez jus às imagens da sua divulgação e não demorou até nos rendermos à calmaria daquele sitio pacato, digno do descanso à Alentejana. A piscina esperava-nos, mas como a tarde se pôs mais fria do que eu estava à espera, o mergulho foi apenas para os mais corajosos.

 

Hotel Rural Quinta dos Bastos

 

Para oficializar a chegada ao Alentejo deliciámo-nos ao jantar com umas Migas e Açorda típicas, numa esplanada da Praça do Giraldo, bem no centro da cidade.

 

Jantar na Praça do Giraldo 


Mas a noite ainda terminou em farra, já que na cidade decorria a feira de São Pedro, pelo que ainda tivemos direito a adrenalina num carrocel, waffle de chocolate e até à apreciação dos cavalos do cavaleiro Rouxinol & Cia., presentes para a Corrida de Touros daquele serão.

 

No Sábado, depois de um valente pequeno-almoço, fizemo-nos à estrada para os passeios planeados. Começámos por visitar o Templo de Diana, património mundial que marca a passagem pelos romanos em território nacional.

 

Templo de Diana

 

Templo de Diana

As nossas meninas, que não haja duvida que se enquadram em qualquer paisagem ou monumento, não pararam de suscitar a curiosidade dos transeuntes.

 

As nossas meninas a serem apreciadas por estranhos


Seguimos para a igreja de São Francisco, onde se encontra a Capela dos Ossos, mas o tempo começou a ameaçar chuva e optámos por seguir logo para as visitas em “campo aberto”, porque assim se viesse chuva para o resto da tarde, tínhamos as visitas exteriores já todas feitas.

 

Por Évora... 

 

Igreja de São Francisco

 

Rumámos então, por estradão, aos monumentos megalíticos, começando pelo Menir dos Almendres.

 

No estradão a caminho dos megaliticos de Almendres

 

Menir dos Almendres

 

Menir dos Almendres


Mais à frente encontra-se o Recinto Megalítico de Almendres, considerado um dos mais antigos monumentos da Humanidade, tendo sido construído à cerca de 7000 anos (2000 anos antes do famoso Stonehenge).

 

Nuno a caminho do recinto megalitico dos Almendres

 

Recinto Megalitico dos Almendres


Junto destes menires e correspondentes informações estava um mapa de outros monumentos do género que se encontram na zona, e apesar de não estar nos nossos planos, isso levou-nos ao destino seguinte: a Anta Grande do Zambujeiro.

 

Vera rumo à Anta do Zambujeiro

 

Crê-se que este seja o monumento megalítico funerário mais alto do mundo – e a sua dimensão é realmente surpreendente… não conseguíamos parar de nos questionar como é que Homens terão conseguido mover aquelas pedras enormes!

 

Anta do Zambujeiro 

 

Anta do Zambujeiro


No caminho de volta encontrámos uma simpática manada de vacas (ou vitelos, pois eram bastante pequenos) e parámos para nos metermos com elas depois de vermos a curiosidade com que olhavam para as nossas motas. Desligámos os motores, e tentámos encorajá-las a aproximarem-se da cerca. O engraçado é que elas estavam realmente curiosas mas ao mesmo tempo muito receosas, e começaram a marrar o único macho da manada como que a dizer “Vá, tu que és o macho aqui, vai lá ver se aquilo não nos vai fazer mal”. E ele lá se aproximou de nós. Só depois o verem deliciar-se com umas festinhas, é que elas se foram aproximando ainda desconfiadas. Mas pouco depois já ali estava todas junto da cerca, à espera de mais festas e a tentarem provar as nossas luvas e casacos.

 

A fazer novos amigos

 

A fazer novos amigos

 

A fazer novos amigos

 

Continuámos o passeio para um outro ponto de interesse que não estava nos planos mas que encontramos no dito mapa anterior – o castelo do Giraldo. Mais uns quilómetros de terra batida e algumas pedras levaram-nos até um local onde realmente deverá ter existido um castelo, porém os vestígios eram umas ruínas tão sumidas que logo o apelidámos de “Castelo Invisível do Giraldo”. Valeu pela vista e pelo trilho que nos levou até lá.

 

Nuno a caminho do Castelo do Giraldo

 

Vestigios do Castelo do Giraldo

 

Vista do castelo do Giraldo


A chuva que antes ameaçava o dia não chegou a aparecer e continuámos os nossos planos depois de um ligeiro snack e de uma passeata pelo jardim publico. Também aqui Évora me surpreendeu, com a sensação de que a cada esquina irá surgir um monumento histórico – pois que dentro do jardim encontrámos mais uma ruína, mas esta era uma de “faz-de-conta”. De seu nome Ruínas Fingidas, este conjunto de peças que pertencia a um outro Palácio que se situava junto da Sé, foi montado propositadamente para ter aquele aspecto.

 

Ruínas Finjidas


Atravessando a rua já nos encontrávamos novamente junto da igreja de S. Francisco para conhecer a Capela dos Ossos. Comprado o bilhete (com o suplemento de 1€ para poder tirar fotografias) encaminhámo-nos para o conhecido monumento que pretende representar a transitoriedade da vida, ideia sublinhada pela mensagem escrita na entrada: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos.”

 

Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos.

 

É realmente algo único, e tão extraordinário que apesar de ter evocado várias vezes à minha memória mente o facto de estar perante ossadas verdadeiras, não conseguia elevar-me à amplitude dessa realidade, pois o que a minha mente optava por assimilar era que eu estava perante mais um monumento como qualquer outro feito de pedra.

 

Capela dos Ossos

 

Capela dos Ossos


No fundo junto ao altar encontram-se os túmulos dos monges fundadores da capela e, pendurados na parede do lado direito, os corpos de uma criança e um adulto. Segundo a lenda, eram pai e filho que foram amaldiçoados pela mãe, em quem batiam. Pela sua morte esta desejou que a terra nunca aceitasse os seus corpos, tendo sido impossível sepulta-los.

 

Capela dos Ossos

 

Capela dos Ossos

 
À saída da capela a curiosidade por uns cânticos de coro levaram-nos até ao interior da igreja de S. Francisco, cuja dimensão é também esmagadora, e fiquei a admirar por uns minutos aquele tecto rude e despido de pedra (que me deixou apaixonada).

 

Tecto da Igreja de São Francisco


Antes de voltarmos para o hotel (e para mais uma tentativa de mergulho na piscina), quisemos passar pela Praça do Giraldo, que apenas vimos durante a noite, espreitando ainda a Igreja da Graça pelo caminho.

 

Igreja da Graça

 

Praça do Giraldo


O dito mergulho só veio na manhã seguinte e mesmo assim foi “puxado a ferros”.

 

Feito o check-out demos uma última volta por Évora, sendo que tinha ficado em falta conhecer a Sé Catedral.

 

Cerco medieval

 

Acabou por ser uma visita rápida para apreciar apenas a fachada exterior.

 

 

Passagem junto à Sé Catedral

 

Sé Catedral de Évora


Dali seguimos para o litoral na esperança de ainda fazer um pouco de praia em Tróia, mas o tempo pregou nova partida e o vento era tanto que até na esplanada estava desagradável. Mas isso não nos preocupou, pois tínhamos a bagagem cheia de quilómetros e um belo passeio para recordar. Como sempre, fica a vontade de mais.

 

 

Vera “Phoenix” Gaspar

 

 

 

28
Set11

Cheiros...

Vera

Uma das coisas que eu mais gosto em andar de mota, seja num pequeno percurso, ou numa grande viagem, são os cheiros dos sítios onde passo.

 

É certo que tanto posso cheirar os aromas agradáveis, como aqueles absolutamente repugnantes - disso não há meio de fugir! Mas bons ou maus, sem dúvida que os cheiros enriquecem a história e a memória de um passeio de mota, não fosse o olfacto o sentido com maior ligação à memória (isto porque as mensagens olfactivas vão directamente do nariz para o cortéx olfactivo do cérebro para processamento instantâno - o cortex olfactivo por sua vez está envolvido com o sistema límbico e com a amigdala, onde nascem as emoções e onde são registadas as memórias emotivas).

 

Sempre tive um certo fascínio pelos cheiros e acho que isso se deve a brincadeiras que a minha mãe fazia comigo desde muito cedo. Jogos de adivinhar objectos pelo cheiro são excelentes para esta educação olfactiva. Não é por acaso que os grandes criadores de perfumes haviam nascido em famílias já com a mesma profissão, tendo desde criança um forte treino de identificação olfactiva.

É frequente eu entrar num sítio e dizer com a maior facilidade ao que cheira o ambiente, ou que situação se poderá ter desencadeado um certo aroma. Da mesma forma consigo desvendar alguns segredos de culinária por tyer a facilidade de distinguir os paladares misturados com a ajuda dos aromas.

 

Adoro a nostalgia que me trazem os cheiros que evocam memórias de infância. Até à pouco tempo me lembrava de um cheiro que eu sabia que me traria de volta a momentos de bebé, mas que não sabia do que era nem onde o podia captar, até que ao trabalhar em berçário fiz uma papa de arroz!!! Era aquele o TAL cheiro que eu queria à tanto tempo voltar a sentir!

  

Quando ando de mota há sitios que têm cheiros muito especificos... quem nunca sentiu o cheiro a batata ao passar ao lado dos contentores que estão à beira do IC2? Ou o cheiro de "caldo verde" na A1, um pouco depois de se passar por Aveiras?

No inicio da Primavera, ao descer os cabos de ávila para aceder à A5, sentia todas as manhãs o cheiro de nesperas na curva para o IC17.

E já há anos que perto de Linda-a-Velha, no viaduto que passa sobre a A5, de quem vem da CREL em direcção à Marginal há a partir do meio da tarde um forte cheiro a Caril.

 

Perto do continente da Amadora, de manhã, há um aroma delicioso a torradas... já durante a noite se sente ali perto o cheiro a tostas (daquelas de servir como entrada, com um pouco de pasta de atum e uma azeitona...lol). As traseiras de qualquer Pingo Doce são seguramente o melhor sítio para ficar com desejos de comer pão saído do forno.

 

E a paz que se sente com a brisa do mar ao percorrer a marginal no inverno. Se for no verão, cheira a areia quente e para ser mais específica ainda, pode-se sentir a fragrancia dos protectores solares daqueles manchas assustadoras de gente que se atropelam para banhos aos fins-de-semana.

 

As primeiras chuvas trazem-nos o odor do alcatrão quente e quando chove bem, da terra molhada. Se formos para serras, são os pinheiros que nos enchem os pulmões. No meu caso até seca também a garganta e faz-me arder os olhos, se for no pico da Primavera! =) 

Há noites em que desde Mem-Martins a Rio de Mouro paira no ar um aroma delicioso a bolos!!! Sempre que passo por lá ou estou nos ensaios da minha banda que a tentação nos toca, trazida pela direcção do vento. Também em Mem-Martins se pode sentir o cheiro de pastilhas ou gomas... é lá que fica a fábrica das Gorila!!!!


Góis cheira eternamente a hortelã... às vezes tanto que fico agoniada!!! Lisboa cheira a poluição... Alentejo cheira a palha seca. Verão cheira a sardinha e inverno cheira a madeira a ser queimada nas lareiras.

 

Há tanta coisa boa para experênciar quando andamos de mota... há que saber tirar proveito de todos os sentidos!

 

E vocês, o que cheiram quando andam de mota? ;)

 

 

Vera "Phoenix" Gaspar

 

 

 

 

20
Set11

Crónicas em duas rodas: 18ª Concentração do Motoclube de Góis

Vera

Agosto de 2011, mês para a realização de mais uma edição da sempre épica concentração de Góis. Esta é uma das mais bonitas concentrações que temos no país, dado realizar-se num cenário espectacular rodeado pelas serras de Góis e Arganil, com uma oferta patrimonial e natural de grande valor.

 

É por isso uma das nossas eleitas para frequentar anualmente. De certo que Góis está sempre no mesmo sitio, e nunca perde a sua magia fora do tempo da concentração, mas deste modo junta-se sempre o útil ao agradável, tornando-se num momento propício para gozar do ambiente típico das concentrações, mas sempre com a vantagem de podermos fugir um pouco da confusão sempre que nos apetece – para qualquer uma das direcções da rosa-dos-ventos há sítios para visitar e descobrir.

 

Como já vem sendo hábito, bem antes da data já andava a chatear toda a gente para se juntar a nós nesta 18ª edição da Concentração do Motoclube de Góis. No Fórum FZ foi aberto o tópico, com inscrições e tudo, para que os batedores pudessem reservar o espaço para os vindouros, e quanto mais perto da data, mais vida havia naquele tópico onde tudo era motivo de combinação, esclarecimento ou paródia.

 

Da nossa parte vinha já sendo anunciada uma surpresa, uns dias antes da partida. Iríamos sair logo no dia 17 (a concentração decorreu entre 18 a 21 de Agosto), para termos a certeza de que haveria espaço para toda a gente no cantinho habitual do Forum FZ. Só ninguém sabia que a surpresa seria encontrarem o Nuno com uma nova montada na vez da velhota Super Teneré – a paixão já de longa data, BMW R1200GS Adventure! A busca pelo negócio ideal já decorria a algum tempo, e para nos proporcionar uma pré-viagem ainda mais emocionante, o dito negócio decidiu aparecer apenas a uma semana da nossa partida. E digo viagem porque não nos íamos ficar apenas pela concentração de Góis, já que dali iríamos partir por mais 5 dias pelo roteiro das Aldeias de Xisto, pelos concelhos de Arganil, Lousã, Pampilhosa da Serra, e arredores. Ora, com o negócio a decorrer, a mota estar em Leiria, mais demora menos demora, ficou definida como data de levantamento da mota… precisamente o dia 17, em que seguiríamos viagem para Góis!

 

A logística era simples: íamos os dois na minha mota até Leiria e a partir daí iria cada um na sua, estando oficialmente formada a nossa “GS Family”. Mas a mim fazia comichão o fantástico pormenor da minha mota ir com as malas laterais carregadas com a bagagem dos dois para 9 dias, material de logística, mais duas tendas (sim porque, sem querer ferir susceptibilidades!, aqui o pessoal das trails tem sempre espaço para bagagem das coitadinhas das Rs que não têm bagageira..eh!eh!), e ainda, pois claro, eu com o Nuno à pendura. Foram quatro… quatro!... as voltas que tivemos de dar na afinação da pré-carga para a suspensão não afundar com o peso todo! Eram 4h da manhã da véspera e eu olhava desolada para a minha maravilhosa Phoenix, absolutamente céptica de que aquilo ia resultar. Só pensava que ela se ia arrastar toda, esforçar o motor de forma arrepiante e que íamos demorar uma eternidade a chegar onde quer que fosse…

 

 

Pois que bem me enganava! A magnifica máquina deixou-me boquiaberta e deitou abaixo qualquer réstia de cepticismo da minha parte! Aquela maravilha da engenharia alemã portou-se que nem “gente grande” e nem por um momento mostrou qualquer tipo de esforço ou dificuldade, e de Lisboa a Leiria lá nos levou com toda a nossa bagagem, pela auto-estrada (teve de ser por causa do contra-relógio), sempre a rondar os 140km/h. «Minha grande motinha, que orgulho tão grande que tenho neste monstrinho feio mas adorável que é a minha F650GS lava-orange! Nunca mais digo mal desta mota e vou aproveitar estes próximos dias para fazer as pazes contigo e voltar a aprender a conduzir-te sem medo.» - e foi assim que reafirmámos a nossa fieldade recíproca. Fieldade essa que se comprovou em todos os km de condução que tive dali em diante.

Lá fui fazendo cada quilómetro inchada de orgulho até Leiria. A fome obrigou-nos a parar ainda na estação de serviço de Santarém, mas num instantinho estávamos a chegar junto do novo tractor, que estava muito discretamente estacionado entre uma série de carros. A gana de pegar nela e seguir viagem era grande, mas tinham de se ultimar os pormenores referentes à compra… uma grande compra onde o Nuno até teve direito a levar o capacete, um Shoei modular praticamente novo, do antigo proprietário – melhor era impossível. Tirar a mota do estacionamento pareceu demorar uma eternidade, tal era a tensão de conduzir pela primeira vez uma Adventure.

 

 

E assim a família GS se fez à estrada… A utilização de GPS era também novidade, mas uma mordomia absolutamente desnecessária já que sabíamos perfeitamente o caminho. Porém, e querendo firmar a máxima de que um GPS só serve para nos perdermos ainda mais, decidimos colocar Góis como ponto de chegada e ver por onde é que a máquina nos levava. E não é que resultou? Bastaram uns quilómetros para ele nos desviar daquele que sabíamos ser o caminho mais simples para a localidade, mas graças ao desvio, demos uma volta ainda maior passando por umas aldeolas meio vazias que nem sequer sabemos o nome.

 

Eram 17h00 quando chegámos ao recinto da concentração e já na companhia do Tiago e da Cátia (Yamaha Super Teneré 1200) se iniciaram os trabalhos: vedar o espaço destinado às tendas dos vindouros, montar as nossas tendas do modo mais estratégico possível (os batedores têm esses privilégios, eh eh eh) e por fim ir para junto do rio para descansar um pouco.

 

 

 

 

Muito pouco, já que minutos depois anunciam a chegada o João e a Filipa, no seu falcão Hayabusa – uma daquelas motas que não dá para levar as tendas, que depois vão de boleia nas trails, se é que estão a perceber, eh! eh! eh!

 

 

 A interrupção deste nosso pseudo-descanso junto do rio foi compensada com um jantar cinco estrelas na pizzaria da vila, onde em boa hora nos lembrámos de ir, já que era a ultima noite em que a ementa estava completa e o restaurante mais calmo. Ainda assim tivemos de esperar pela nossa vez, o que nos valeu de uma magnífica memória: interrompendo a amena cavaqueira junto das motas, surge a rasgar o céu um meteorito, uma visão que ainda durou uns segundos, o suficiente para se dizer “Olha-me só aquilo!!!!” e os outros ainda conseguirem distinguir a cauda em chamas, até se desfragmentar ao ponto de desaparecer. Algo que não se vê todos os dias.

 

A quinta-feira já começou a ter mais movimento e ao longo do dia foram chegando mais motards. Mas enquanto crescia a agitação dentro e fora do recinto, os seis batedores deram-se ao luxo de ir para um pequeno paraíso local, ainda preservado por haver pouca gente da concentração em Góis. Munidos de compras para nos abastecermos ao longo do dia, e já com um belo pequeno-almoço no bucho, rumámos para a lindíssima praia fluvial de Carcavelos (não, não é brincadeira, tem mesmo este nome) – um pedaço de rocha num vale escondido por onde passa o rio Ceira, onde uma queda de água ilumina a paisagem, rodeada de verde e paz.

 

 

 

 

Um local obrigatório para quem passe por Góis, pelo menos no Verão para se poder refrescar ou mesmo dar um valente mergulho da rocha. Um dia muito bem passado, que terminou com um jantarzinho na casa de amigos, com um valente arrozinho de tamboril feito por moi même. As chamadas começavam a cair – o pessoal ia chegando ao recinto e tudo queria saber dos batedores que prontamente se puseram a caminho. Após mais umas ajudas na logística do monta tenda, martela estaca, enche colchão, estava tudo a posto para se ir viver a animação da feira e dos concertos que já soavam. O resto da noite foi animada e ao som dos Morangotango, íamos cantando temas de vários artistas, uns mais afinados que outros, uns mais alegres que outros… e outros muito, mas mesmo muito mais alegres do que todos esses juntos! A culpa, diziam eles, era de uma barraquinha que está lá sempre, verde e amarela, que pertence a um senhor muito simpático que diz que gosta de servir bebidas com sotaque brasileiro, lima e gelo picado – eu pessoalmente peço-as sempre com o gelo inteiro, oh!, isto é… pediria se bebesse!  Eh! Eh! Eh!

 

 

 

 

A manhã acordou-nos cedo, com muito movimento (já a noite tinha sido barulhenta), e o pequeno-almoço já obrigou a esperas mais longas. A vontade era sair dali rápido para um sítio fresco e mais calmo, pelo que a Serra de Arganil nos levou até à praia fluvial de Secarias. Não contando com o episódio do almoço, onde nos vimos obrigados a uma espera ridícula que colmatou na saída de todos daquele café para o da outra margem do rio, o dia foi mais uma vez passado de molho no rio, com o grupo ainda mais composto e com mais pessoal sempre a dar conta da sua chegada ao recinto.

 

 

 

 

O final de tarde foi propício para os encontros com os recém chegados, mas infelizmente também foi quando o azar (ou descuido) minou a serra de Góis, provocando um grande acidente em que estiveram envolvidas vários motards. Resultou no falecimento de um companheiro das duas rodas (nosso desconhecido), soubemos nós mais tarde. Nestas alturas a diversão e o espírito do evento fazem com que nos deixemos levar pelo entusiasmo, facilitando acontecimentos totalmente dispensáveis. É essencial nunca nos esqueçamos da nossa fragilidade e vulnerabilidade – não somos super heróis!

 

Os mais distraídos nem deram conta do trágico episódio, e confirmada a presença de todos os nossos mais próximos, a animação e o convívio ajudaram a desvanecer o acontecimento das nossas cabeças - se bem que admito que me lembrei várias vezes daquilo, pois estive durante umas horas (não foram assim tantas, mas pareceram) sem saber da minha mãe que tinha chegada prevista a Góis para aquela altura. Fiquei sim, mais descansada, quando consegui falar com ela. Por essa altura soavam já as guitarras de Tara Perdida, a abrir mais uma noite de grande animação e algazarra que não deram nem um minuto de tréguas a quem, nas suas tendas, tentava dormir um pouco…

 

 

O Sábado foi o dia do grande almoço do Fórum FZ, e na hora combinada lá saiu calmamente a caravana rumo ao restaurante Gota d’Água (em Secarias), para um magnífico repasto. Ainda tivemos direito a assistir em directo ao resultado de mais uma falta de cuidados, desta vez de uma moto-quatro que numa curva fez uma chopper ir ao chão – felizmente sem provocar quaisquer danos para além do susto do coitado que caiu. Mas mais uma vez fica aquela sensação de que por causa de gente inconsciente se estragam convívios destes… Mas nós chegámos inteiros ao restaurante e lá nos deliciámos com várias especialidades, como as espetadas de marisco, os grelhados, e todas essas coisas que só dá vontade de lamber os beiços!

 

 

Como o dia ameaçava chuva não ficou definido nenhum plano para depois de almoço, se bem que a ideia inicial seria uma voltinha pelos arredores. Mas com o céu a torcer o nariz até mesmo pingar, houve muitos que também torceram o nariz à ideia e, ajudados pelo cansaço, preferiram ficar pela zona para mais banhos. Ora eu e o Nuno e mais meia dúzia de valentes não nos fizemos rogados; desafiamos o boletim meteorológico e rumámos ao Piódão, passando pela Fraga da Pena, com a ideia de só parar para visitar no regresso.

 

 Mas demorámo-nos nas magníficas curvas até à povoação escondida naquele vale do Piódão, onde ainda nos deixámos também ficar descontraidamente numa esplanada depois de bebericar e provar uns licores da região. Resultado: a chuva fartou-se de ameaçar e decidiu mesmo cair do céu, apressando os valentes novamente rumo à origem. Mas nem isso estragou o passeio, que foi excepcional!

 

 

 

 

 

Mais uma noite de confusão e barulho, prometendo um grande concerto desse artista de renome que era!!! …o João Pedro Pais… (perdoem-me os fãs a minha falta de entusiasmo). Ainda me aguentei uma ou duas horas ali de pé, convencida que ainda ia saltar e curtir com os Killer Queen, mas para grande desilusão o espectáculo deles foi cancelado. O grupo dos seis batedores deu-se como derrotado e teve mesmo de ir para a zona da restauração sentar-se na esplanada sem aguentar mais estar de pé. Para ser ainda mais drástica, eu optei mesmo por adormecer em cima da mesa, por isso não foi preciso muito mais tempo para ir definitivamente dormir, desta vez para a tenda. Tive ainda oportunidade de ficar extasiada ao reparar na enorme multidão que se encontrava já a ver João Pedro Pais! Upa, upa… vou mas é para a tenda!

 

E devo ter adormecido tão profundamente que nem mexi toda a noite, dado o enorme torcicolo com que acordei, justamente na manhã do desfile pelo concelho. Maldita sorte! Pior nem era o desfile, era o facto de termos ainda muitos kms programados. Acabei por ir à pendura na minha própria mota, conduzida pelo Nuno que tendo a Adventure à 4 dias apenas, não se queria arriscar a levar-me nela, receando algum desequilíbrio. Acho que tinha sido melhor eu própria ter levado a mota, ou não ter ido de todo ao desfile, que para mim acabou à porta da farmácia a comprar todas as formas existentes de Voltaren.

 

 

 

 

 

 

De regresso ao recinto, já estava tudo de partida, restando já poucas tendas. Não fomos excepção e com um ritmo a meio-gás arrumámos tudo e despedimo-nos de mais uma edição da Concentração de Góis. Para o ano, estejamos ou não por lá, que seja tão boa ou melhor – é que esta é sem dúvida e sempre será das mais bonitas concentrações que temos em Portugal.

 

 

 

 

Vera "Phoenix" Gaspar

11
Set11

Manual do bom pendura

Vera

Estou em falta com uns posts, já que o Verão pôs mais umas boas centenas de Kms na minha Phoenix... mas enquanto não arranjo tempo para me dedicar exclusivamente a essas escritas, deixo aqui um pequeno texto muito util para algumas pessoas. Divirtam-se! ;)

 

..::: MANUAL DO BOM PENDURA :::..


Escreve-se muito sobre motos e condução, mas esquece-se esse elemento fundamental do mototurismo que é o/a pendura.
Comecemos por uma regra que consideramos da máxima importância, sobretudo se a experiência de pendura é pouca :


    O PENDURA É CARNE MORTA!


Deve por conseguinte, permanecer no seu poleiro, muito quieto e calado e não tentar ajudar em nada. Vale mais nada fazer do que fazer mal.
Passada a piada, vamos então às regras, para recortar, plastificar e agrafar nas costas do blusão do condutor. ( Eheheheh )

 

1. Nunca subir ou descer da moto, sem prévio conhecimento do condutor. Já vimos muito motociclista ser desequilibrado assim, sobretudo se o piso é irregular, ou o condutor é de perna curta, ou se a moto está carregada.



2. Ajudar nas manobras de entrada e saída de estacionamento, sobretudo se é necessário 'engrenar' a marcha atrás.



3. Em andamento, evitar movimento bruscos, do género de olhar para trás, no final das rectas e dizer : "Olha que já não vejo nenhuma moto!"



4. O pendura é o tesoureiro da equipa no que toca ao pagamento de portagens. Deve, ter sempre à mão os meios de pagamento necessários.



5. Igualmente, é o navegador da equipa.



6. O pendura pode ajudar nas curvas, espreitando sempre por dentro e apoiando-se, fortemente, em ambas as peseiras. A transferência de peso para as peseiras torna a moto mais manobrável.



7. Pela mesma razão, deve-se apoiar mais fortemente nas peseiras quando a moto circula, devagar, entre o trânsito.



8. Idem, quando circula em piso irregular, com a vantagem, neste caso, de levar menos pancada no sítio onde a espinha muda de nome.



9. Não adormecer, sobretudo em percursos sinuosos, ou de piso irregular.



10. Nas travagens e arranques deve apoiar-se nas pegas e não no condutor.



11. Nas paragens não pôr os pés no chão, pois em vez de ajudar, só desequilibra.



12. Em velocidade, ou se está muito vento, juntar-se o mais possível ao corpo do condutor; evita assim a oscilação. Se o condutor não for muito 'largo', apoiar-se no depósito.



13. O pendura está, rigorosamente, proibido de olhar para o conta quilómetros e expressar a sua aprovação com apertos de joelhos, punhadas nas costas, etc, etc...



14. Não esquecer que a partir dos 70-80 Km/h acaba a conversa, pois o vento não deixa.



15. Quando circula a mais de 200 Km/h (nas auto-estradas alemãs, claro), não deve acenar aos outros motociclistas, sob pena de deslocar um braço.



16. Nas mesmas circunstâncias, evitar calçar as luvas, ajeitar o capacete, os óculos ou o penteado.

 

A. Monge da Silva, Moto Clube da Costa do Sol
in Motojornal

02
Ago11

Crónicas em duas rodas: Sardinhada Forum FZ 2011

Vera

Crise – esta é a palavra que está na ordem do dia. Todos os dias somos bombardeados por títulos de jornais, reportagens televisivas, notícias radiofónicas, discussões parlamentares, em que se esgota este conceito sociológico, cuja palavra tem origem grega.
Realidade para uns ou desculpa para outros, o que é certo é que graças a esta “senhora” as nossas vidas têm vindo a sofrer alterações, deixando-se para depois todo e qualquer gasto que não seja aplicado aos bens essenciais. E inevitavelmente os ajuntamentos de mota começaram a escassear, bem como as tão agradáveis almoçaradas  e indispensáveis passeios.

Mas como aficionados que somos, autênticos viciados e moto-dependentes, não podia passar muito mais tempo sem que algo nos juntasse novamente. Juntando então o útil ao agradável, surgiu a ideia da realização de uma sardinhada: comes e bebes a um preço justo e suportável, num sitio agradável e onde o convívio é mais do que ponto assente.
O parque de merendas da praia do Guincho foi o local eleito, por ser um sitio de fácil acesso e perto das estradas maravilhosas da Serra de Sintra, palco do passeio que se seguiria ao repasto. A ideia foi partilhada com um ou outro amigo e a aceitação fez com que me lançasse ao desafio – sim, desafio porque foi o primeiríssimo evento que decorreu da minha iniciativa, e fui logo escolher um cuja logística era um pouquinho mais complexa do que marcar um restaurante e sentar-me a mesa. Ainda me permiti a pensar bem no assunto antes de o tornar publico, mas numa onde de agora ou nunca, postei no fórum o tópico “1ª Sardinhada Forum FZ”.

Os efeitos desta novidade não demoraram a surgir – a iniciativa foi variadas vezes aplaudida, ainda que tenha havido quem me tentasse demover da ideia porque “Ninguém vai/está a aderir”, “Fazer uma almoçarada num restaurante é bem melhor”. Mas o que é certo é que: 1-Variar nunca fez mal a ninguém; 2-Só se inscreve quem quer; 3-Restaurante sai bem mais caro; 4-Eu queria assim, independentemente do trabalho que me pudesse dar; 5-Só faz falta quem cá está. Agarrei-me a estas máximas para não perder a coragem, mas a verdade é que até ao momento em que a sardinha estalava na brasa, o receio de que fosse um fiasco não me largou.

Sem duvida de que poderia ter tido mais adesão. Fosse pela novidade, pela falta de t€mpo, ou por coincidir com época de férias. Mas foram 16 os bravos que se inscreveram para este evento pioneiro. Dias antes lá andava eu a fazer exercício de tracção pelo meio do Continente, com um carrinho atolado de minis, colas, croquetes, rissóis, para grande gozo de quem me via passar. Na noite anterior eram 3h da manhã e ainda estava a lavar a alface, a “encaixotar” salgados, a desenformar o bolo, em suma… a dar o litro para que tudo corresse pelo melhor.
Isso valeu-me uma noite de poucas horas de sono, pois bem cedinho as sardinhas já nos esperavam, geladinhas no caixote, que as levássemos para o Guincho. Tivemos de optar por levar apenas uma mota (foi a minha linda Phoenix), e o meu mais-que-tudo disponibilizou-se para levar o jipe, que ia carregadinho… bem carregadinho com o repasto e equipamento de logística.

Cheguei um pouco depois do que tinha planeado (nunca pensei que fosse tanta gente às compras às 9h00 da manhã…) e já tinha alguns membros à espera – só faltava estarem de braços cruzados e a bater o pé.. LOL  O “camião” chegou pouco depois, e assim que se escolheu o melhor local, lá nos instalámos. Os restantes foram chegando enquanto já se tratava da brasa. As meninas incumbiram-se de ir tratando da salada e praticamente sem aviso prévio, enquanto os salgados distraíam as hostes, já iam saindo os pimentos, chouriço, farinheira, tudo muito bem assadinho, muito saboroso e a pedir mais. Chegada a vez das sardinhas, iniciou-se um autentico festival porque estas foram sem duvida as rainhas do cortejo. Pequeninas, mas gordinhas, muito, mas mesmo muito saborosas, deixavam no pão aquele suco guloso (ou os gulosos somos nós ao deliciarmo-nos com aquilo)… e as febras coitadinhas iam saindo mas não conseguiam rivalizar com o sucesso daquelas mega portadoras de Omega 3!!! Os homens das brasas não tinham descanso, mas estavam entretidos, pitando uma sardinha aqui e uma febra ali, sempre de Mini na mão, como não poderia deixar de ser.

Já as barrigas estavam cheias, mas a mesa não dava o braço a torcer, pois continuava coberta de comes e bebes, como se o banquete não tivesse sequer começado. Ainda houve, no entanto, espaço para uma ou duas fatias de uma grandessíssima melancia (havia quatro bem grandes) que colmatou em cheio esta bela refeição!
Tempo para amena cavaqueira, enquanto se iam começando a arrumar uns tarecos. Até que eu me pus em cima da mesa, chamando a atenção de todos para o que se ia seguir. Reunida toda a malta, chegou a vez da oferta surpresa do certificado de participação nesta 1ª sardinhada do Fórum FZ! Digna de recordar, para mais tarde repetir!

Muitos braços puseram todo o material e sobras de comida num ápice dentro do jipe, para se poder pegar nas meninas e dar o merecido passeio pela serra de Sintra. A primeira paragem foi muito próxima, já que tudo ansiava por um café e uma casa-de-banho. Seguimos depois até à praia da Adraga, caminho durante o qual até houve direito a um pequeno percurso ao estilo “Lés-a-Lés”, off-road quase puro (pelo menos quem ia de Rs deve ter tido essa sensação), devido a umas pequenas obras que não estavam nos planos. Também não estava nos planos o tráfego intenso por Sintra, devido à feira medieval que ali acontecia. Isso fez com que o passeio fosse um pouco mais atribulado do que estávamos a espera. Até tivemos o azar de ver um companheiro e a esposa terem um encontro parado mas em primeiro grau com o alcatrão, devido às manhosas ruas de Sintra – onde era para pousar o pé, não havia alcatrão (raios partam a ilusão de óptica!). Mas felizmente foi maior o susto, porque feridos, só no orgulho. Mas isso passa rápido!

Ao contrario do que estava previsto, o passeio não terminou com um mergulho na praia, pois o tempo apesar de estar bom para todo o evento, para banho já deixava a desejar.

Ficou então a satisfação de um excelente dia passado na companhia de uma excelente companhia, e a vontade de repetir!

A mim resta agradecer a todos pela participação e pelo apoio. Vai haver 2ª edição, não haja duvida!   



Vera “Phoenix” Gaspar

27
Jun11

Saltos Altos e Duas Rodas

Vera

Bem-vindos ao Saltos Altos e Duas Rodas!

 

Este blog nasce de uma continua cadeia de pensamento sobre uma das minhas maiores paixões - as motas.

Pretendo deixar aqui um testemunho, para todos vós mas também para mim própria, do que sinto e de como vivo este mundo tão próprio e tão especial que é o das duas rodas. É uma realidade que as mulheres estão a entrar cada vez mais neste universo até à pouco tão circunscrito ao género masculino, o que só pode ser motivo de orgulho.

 

E porquê Saltos Altos e Duas Rodas? Porque acho pertinente mostrar que as mulheres motards não precisam propriamente de se apresentar como a típica imagem que se vende de uma mulher numa mota: com uns 90kg, vestida de cabedal dos pés à cabeça, a comportar-se como se fosse um homem das cavernas, tatuagens nos braços gordos, e obviamente montada numa chopper. Ou então, uma top model com menos de 20gr de roupa em cima do corpo, bem... já calculam ao que me refiro...

Não! Uma mulher motard, é uma mulher motard. Não tem que ser gorda, não tem que ser magra. Não tem que prestar provas de masculinidade, nem de feminilidade. Mas o que é certo é que não deixa de ser uma mulher. E ao longo do blog pretendo abraçar uma série de testemunhos, femininos e masculinos, acerca da actual imagem da mulher no mundo motard.

 

 

Gostaria também de partilhar o que é isso do "espírito motard". Existe uma frase que me faz todo o sentido: "Quem não sente nunca irá compreender, e quem sente nunca irá conseguir explicar." Daí que nem vou arriscar tentar desmistificar este sentimento mágico, vou apenas fazer por partilhá-lo o melhor que souber.

 

 

Irei começar então por me apresentar... dedico o próximo post ao meu percurso nas duas rodas.

 

Espero que este blog possa proporcionar-vos bons momentos de descontracção, de reflexão e também de opinião, pois conto com a vossa participação para enriquecê-lo ao máximo.

 

Obrigada pelas vossas leituras.

 

 

VG

08
Jun10

Crónicas em duas rodas - 12º Portugal de Lés-a-Lés, 2010

Vera

E já se passou mais um Portugal de Lés-a-Lés, o 12º, que entre Faro, Sintra e Porto contou com cerca de 1200 motas e muitas aventuras.

 

 

Pois deixo-vos aqui a nossa...

 

 

Começou tudo bem antes da data prevista, pois uma viagem não se resume a montar a mota e enrolar punho. A logística da viagem fica a cargo da organização, mas há ainda muito que fazer antes de uma aventura destas. Desde o meu primeiro Lés-a-Lés, o 10º (Bragança, Coimbra, Sagres em 2008) que o bichinho nunca mais me largou e, como eu costumo dizer, nós saímos de lá com a cabeça já no do próximo ano.

"Onde será?! Quem mais irá comigo? Vou encontrar as mesmas pessoas? Vou conseguir superar as metas que alcancei este ano?" - e de repente quando damos por nós estamos completamente embriagados por esse veneno que é o mototurismo!!!

 

Foi com esta obsessão bem presente que o Nuno me conheceu e cedo começou a ficar consumido pela vontade de experimentar. Mas havia um grande obstáculo: não ter mota para o fazer.

Certo...há quem faça o Lés-a-Lés com motas de estrada (a cada ano que passa se vêem menos, verdade seja dita), mas a estima que ele tem pela sua linda Kawasaki ZX12R não permitiu sequer colocar a hipótese. E foi aí que tudo começou: a busca por uma mota mais versátil, que desse tanto para estrada como para terra. Daí ter encontrado e comprado a Super Teneré.

Da minha parte já estava servida - a Baby Blue, CB500, não é a melhor mota para off-road, mas como "máquina de guerra" que é, já tinha levado com dois LaL em cima e eu não tinha duvida que iria sobreviver ao terceiro!

 

Depois de certificar-nos que temos mota para participar, uma parte importante e que o ideal é fazer cedo, é procurar estadia nos locais onde vão começar e terminar as etapas. Este era “aquele” LaL que não podíamos mesmo falhar, pois até essa parte estava facilitada por conseguirmos ficar em casas de familiares (e na nossa), poupando aquela que costuma ser a fatia mais alargada do orçamento destes passeios.

 

Começa então a preparação do material mais secundário. O Nuno construiu dois leitores de roadbook (eu nos anos anteriores não tinha usado), procurámos protecções boas, baratas, confortáveis; pensámos em três biliões de coisas que podíamos fazer, levar e arranjar e que ficaram sempre para depois e nunca se chegaram a concretizar. A bagagem era ridiculamente reduzida em relação aos meus anos anteriores, devido à passagem por Sintra que nos permitia pernoitar em casa e que poupou muito desse peso extra.

 

Chegada a noite da partida para Faro, como sempre, atrasámo-nos bastante com imprevistos de ultima hora - desde o meu roadbook não se encaixar no suporte e ter de se alargar a adaptação, até ao espelho da CB se soltar mesmo à porta da garagem. O que vale é que não tínhamos ninguém à nossa espera e pudemos estar mais a vontade. Com tudo finalmente a postos, lá partimos para os cerca de 300 km de auto-estrada que tínhamos pela frente.

Tudo correu bem e estávamos tão à vontade que na manhã seguinte até pudemos ir até à praia. Mas como tudo é medido ao segundo na programação do L-a-L, à hora combinada encontrámo-nos com o resto do pessoal que nos ia acompanhar. Estavam então formadas as três equipas: 

360 A - Gustavo e Sónia com a BMW GS 1200

360 B – Guilherme com a Yamaha TDM 850

 

361 A – Paula com a Yamaha TDM 850  

 361 B – Eu com a Honda CB500

(a 2ª equipa unicamente feminina e única composta por mãe e filha)

 

362 A – Gonçalo e Rita com a BMW GS 1200

362 B – Nuno com a Yamaha Super Tenere

 

O Gonçalo e a Rita apenas conhecemos quando chegámos ao recinto da organização, pois tratou-se de um daqueles arranjos de procura de parceiro de equipa, que fizemos através do fórum BMW CKLT (ao qual eu, o Gustavo e a minha mãe pertencemos). Este é outro pormenor fantástico desta aventura...perante a falta de parceiro de equipa, fazemos por arranjar um e, a partir daí, passamos a conhecer uma outra pessoa (ou duas como foi o caso) que de um momento para o outro parece que já conhecemos à anos.

E quem fala dos parceiro de equipa “surpresa”, não deixa de fora todas as outras pessoas com quem vamos contactando ao longo dos três dias, desde o Staff, àqueles que nos ajudam com problemas técnicos, ou aos que ajudamos quando há pequenos azares, ou até aos que brincam connosco nas filas das refeições ou nos postos de controlo.

Do inicio ao fim estamos rodeados por uma áurea de boa disposição e de empatia por qualquer um que esteja ao nosso lado. Afinal estamos todos ali por um motivo muito forte, uma paixão comum que move massas por quilómetros e quilómetros e que é dificilmente compreendida por “outsiders”: a paixão pelas duas rodas.

 

 

Grupo reunido e apresentações feitas, lá nos dirigimos à zona das inscrições e recepção de material.

Devo desde já dizer que este ano estava tudo impecavelmente organizado e parece-me também que as incansáveis chamadas de atenção para o respeito pelas horas das Verificações Técnicas tiveram os seus frutos, pois o processo foi todo relativamente rápido quando comparado com os outros anos. Certo também é que nos distraímos a conversar com o Gonçalo e a Rita enquanto os conhecíamos e isso também ajudou a que passasse mais rápido.

 

 

Outro momento particularmente engraçado enquanto aguardávamos veio a comprovar, mais uma vez, a minha tão badalada frase: “O mundo é uma ervilha”. Não sendo já segredo nenhum que a minha equipa é muito especial por ser a única composta por mãe e filha, é com orgulho que falamos nisso por diversas vezes.

E foi numa dessas vezes que um senhor que estava atrás de nós, pedindo desculpa por se estar a meter na conversa, pediu a confirmação do que lhe parecera acabar de ouvir. “São vocês a equipa de mãe e filha? Então devem conhecer a Mena, de Abrantes, pois ela falou-me de vocês. Uma de vós não toca na banda dela?” e meio aparvalhada lá respondi “Ah, pois claro que conheço, sou a teclista dos Incoming Chaos, ela é a nossa vocalista!” Bem, e perante isto lá fico eu de novo vidrada e maravilhada com a ideia da gigante rede de relações que nos une a todos.

 

Continuando o percurso da inscrição entre gozos, piadas e brincadeiras, voltámos a ver as caras conhecidas dos anos anteriores e que sempre dão um prazer enorme rever. Chega a hora das Verificações Técnicas.

 
 Perante o cenário assustador do 11º Lés-a-Lés, até me arrepiei – é que foram 2h30 debaixo de um sol abrasador que não deixava nem sequer pensar direito. Mas não!!! Tudo foi tão bem organizado que uns 30 a 45 minutos depois estávamos já em cima das motas prontos para o Prólogo. Não sem antes passar pelo palanque e ouvir o incansável e (aparentemente) omnipresente Ernesto, a cara e voz do Lés-a-Lés, com o seu sotaque nortenho e o sorriso amigável que contagia qualquer um. Rapidamente nos reconheceu e anunciou a todos os presentes que acabara de chegar a “equipa mais bonita do Lés-a-Lés”.

 

 

 

O Prólogo, este de 52 km, estava carregado de uma certa expectativa, pois sendo o primeiro contacto com o 12º Lés-a-Lés (e o primeiro Lés-a-Lés definitivo da equipa 362), esperávamos saborear e mostrar aos “novatos” um pouco de tudo o que o L-a-L tem para oferecer. Mas soube-nos a muito pouco, talvez por estarmos mal habituados. É que os anteriores tiveram o seu começo no Norte, cuja paisagem é muito mais rica e versátil que aquela fraca oferta Farense. Valemo-nos das valentes tostas da ilha de Faro que fomos comer após terminado este pequeno percurso, e assim já valeu a pena.

 

De regresso ao recinto da organização encontrámo-nos com mais algumas caras conhecidas. Primeiro o filas e o Pedro Morais, do Forum FZ, e depois mais alguns malucos do Forum BMW CKLT (Rui Baltazar, Roger Shark, Bip, e outros). Para terminar este primeiro dia em grande foi-nos oferecida a mais famosa refeição do 12º L-a-L, da qual nunca mais se iria parar de falar (e a qual já vi circular entre alguns participantes que têm Facebook, as receitas originais) – o “grandioso” repasto que é a Jardineira!!! Devo apenas acrescentar: benditas tostas que em tão boa hora comemos, senão tinha passado cá uma fome…!

 

Chegados a casa, perderam-se algumas horas de sono com os preparativos para o derradeiro começo da viagem. Os roadbooks, que são entregues em 3 conjuntos de folhas A5 (Prólogo, 1ª Etapa e 2ª Etapa), têm de ser colados, folha a folha e depois enrolados nos leitores – é uma tarefa delicada e que exige uma certa paciência, principalmente quando estamos ali mesmo ao lado da cama e o que mais nos apetece é dormir. Mas é uma tarefa árdua e alguém tem que a fazer! A mim não custou assim tanto, pois a perspectiva de ir fazer finalmente um L-a-L com navegação (ou pelo menos acompanhando-a), encheu-me de coragem para passar mais uma ou duas horinhas a pé. Foi também preciosa a ajuda do Nuno e, como em equipa tudo se consegue, trabalhámos em conjunto para um resultado que se diria quase perfeito! (mal eu sabia como se iria tornar num trabalho desperdiçado…)

 

 

A manhã chegou mais cedo do que nos apetecia e isso valeu-me uma valente má disposição que me ia expulsando do estômago o pouco que comi – uma mariquice que passou rápido pois assim que chegámos ao palanque outra vez já me sentia mais viva que nunca.

A jornada iniciou-se e juntamente com ela iniciei eu uma autêntica luta por compreender a quantas andava nas figuras hieroglíficas do roadbook, elaboradamente desenhadas por um qualquer jeitoso das artes visuais pertencente à organização. Foram para aí 80Km “inteirinhos” dessa batalha que, orgulhosamente….não e levou a lado nenhum! Sim, porque aquilo não passava de uma diversão, porque orientar orientava-me pelo Gustavo, o eterno cabecilha dos Los Bomba (nome dado ao nosso pequeno grupo pelo Sérgio, um Hadock (que é outro grupinho), também ele membro do CKLT).

 

 

Passados os acima referidos 80km, eis que chega o primeiro grande desafio do 12º L-a-L – é também aqui que me vem à cabeça um momento dessa manhã. Foi quando subi ao palanque com a minha mãe que o Ernesto nos disse algo em relação à primeira Serra…algo como: “Aconselho-vos a apanharem a Nacional e irem à volta, pois estas partes de terra que antes estavam muito bons e muito direitinhos, ficaram todos remexidos e estragados pelo Rali de Portugal e agora estão um pouco difíceis.” E ali estávamos nós, com essa informação a passar-nos completamente ao lado, enquanto a interpretávamos como um gesto simpático e aparentemente super-protector do nosso querido Ernesto. Como nos enganávamos!

 

Entrámos pelo estradão e durante dois ou três quilómetros a coisa correu muito bem – até que começámos a aproximar-nos dos locais por onde deve ter passado a maior adrenalina dos enlatados de quatro rodas sobre a terra. O percurso apresentava regos maiores mas o que dificultou mais foi a terra, que mais parecia areia da praia, de tão remexida que estava. Foi numa descida mais acentuada que a fórmula “condições do terreno + mota pouco apropriada+azelhice e pouca experiencia da maçarica que sou eu” deu o resultado mais estrambólico.

Vendo a cena toda em retrospectiva só me dá vontade de rir: na descida atrapalhei-me e travei (sem saber que não o devia fazer) com a roda da frente; a mota resvalou, dançou um pouco, e lá caímos as duas, Baby Blue e Baby Vera, a centímetros de levar com a TDM do Guilherme em cima. O Nuno parou com toda a segurança e ajudou-me a levantar a mota; meto-me em cima dela, ligo-a e nem dez segundos depois vou parar outra vez ao meio do chão. Pois agora só me faz lembrar os bêbados que caem e levantam-se, voltam a tropeçar e levantam-se outra vez, e assim por diante, pois inacreditavelmente eu ainda fui com a mota ao chão a terceira vez! No fundo, no fundo, caí três vezes num espaço de três metros! Que vergonha! Sou tão azelha! Não tenho jeito nenhum para isto! Só me apetece cavar um buraco e enfiar-me lá dentro!

 

Já enervada viro costas à mota enquanto já a minha mãe, com toda a sua experiencia, pegava nela para me ajudar a passar aqueles metros seguintes e… inesperadamente cai ela também, exactamente do mesmo modo! Eu nem podia acreditar! Obviamente que não me quero valer do que lhe aconteceu, mas pelo contrário, fiquei mais conformada por compreender que talvez não fosse tanta azelhice minha, mas sim o terreno que estava mesmo complicado.

Para terminar em beleza, a descida desembocava no rio que, apesar de ser apenas um riachozinho inofensivo, perante tanto azar mais me parecia um autentico rápido vindo das cataratas do Niágara. Já tinha visto fazerem aquelas passagens, não podia ser assim tão complicado, mas pelo sim pelo não, pedi umas dicas ao pessoal que lá estava: “Metes primeira e não tiras mais; velocidade constante e já está no outro lado”. E assim fiz – em menos de nada tinha passado aquele terrível obstáculo que era um rio com um palmo de profundidade e uns assustadores 3 ou 4 metros de largura! Eh! Eh! Eh! <Photo13>

 

Os quilómetros seguintes foram passados com uma cautela redobrada, tri ou até quadriplicada – levou o seu tempo mas permitiu-me não estragar mais a mota. Pois, porque ainda não cheguei a referir que com a brincadeira das quedas, o roadbook foi logo para o galheiro (ena, ainda fiz 80 km com ele..ena, ena…), os plásticos e tampa do motor ficaram riscados e o deposito ligeiramente amolgado.

Ainda assim, a Baby Blue defendeu a sua honra de CB500 – a mota da guerra, e aguentou-se firme até ao final da viagem, sem ceder no que fosse.

 

O mesmo não aconteceu com a TDM da minha mãe – nem um quilometro depois de mim, atrapalhou-se de mesmo modo e também caiu. O pior foi que teve a pontaria de acertar numa pedra qualquer que estaria para lá enterrada, que fez um buraco na tampa da bomba do óleo, que começou a sair em jacto. Aí tudo valeu um pouco, desde fita cola a pastilha elástica para tentar vedar a fuga o suficiente até sairmos da terra para parar numa estação de serviço e tentar resolver o problema sem ter que mandar a mota para casa de reboque. Passámos mais um rio, desta vez um pouco maior, que já deu para molhar as canelas (o gozo que a experiencia na água me deu perante o sentimento de impotência das anteriores quedas quase me convenceu a optar por a seguir comprar uma mota de água, Eh! Eh! Eh!)

 

Findo o percurso off-road, chegámos a uma bomba de gasolina onde parámos para analisar o estrago da TDM. Ainda se enfiou para lá um parafuso o que deu azo a que se fizessem mais uns quilómetros até se encontrar um mecânico. Muito devagarinho lá fomos, por curvas em câmara-lenta (o pneu da TDM estava já cheio de óleo e corria o risco de escorregar), até chegarmos a Almodôvar. O Gustavo, que se tinha adiantado a nós para ir procurando um profissional das duas rodas, já tinha encontrado o sitio onde levámos a “paciente” vermelha a ser curada.

O mecânico estava a braços com um arranjo de uma outra mota do L-a-L, mas prontificou-se logo a resolver o problema, que não teria qualquer dificuldade. Com grande perícia “limpou e desinfectou a ferida”, para depois lhe aplicar uma massa de metal que em pouco tempo vedou a fuga. Maravilha!!! Só faltava colocar óleo na mota e tudo feito. Trouxe um gerrican de litro e encheu… e voltou a encher… e mais uma vez… e outra… pôs 4 litros de óleo na mota, perante o olhar algo desconfiado dos nossos elementos mais entendidos. Mas o mecânico era ele, lá haveria de saber o que estava a fazer.

 

 

Pago o “estrago”, decidimos que íamos saltar o percurso até ao local do almoço, Cuba, pois levávamos já duas horas de atraso. Mas foi pelo caminho que a TDM começou a deitar fumo e foi o fim da picada! Fosse por óleo a mais ou por outra razão qualquer, algo não estava bem e assim a mota não podia continuar!

Foram em vão aquelas horas perdidas, pois no final a vermelhinha acabou mesmo por ter de ir de casa em cima de um enlatado e a Paula ter de fazer o resto da viagem à pendura.

O ambiente ficou algo pesado, pois é sempre desagradável, ter aquela sensação de viagem estragada. Tivemos de nos conformar com a ideia, pois no fundo a viagem não ficava estragada, apenas ficava com contornos diferentes – e o mais importante é manter o espírito e não desistir!

Foi pena o tempo perdido pois com esse atraso tivemos de ir praticamente directos de Cuba para Vila Franca de Xira, sem passar pelo percurso de Benavente, que metia mais uma passagem a vau por um rio (o maior dos três) e outras surpresas numa paisagem que, já pude ver em fotografias, foi lindíssima.

 

Em Vila Franca voltámos a encontrar a caravana. Foi uma sensação boa, voltarmos a sentir-nos no sítio certo. Mas perante a existência de horários por cumprir e ainda uns bons quilómetros pela frente, pouco deu para mais do que apreciar a estrada e as curvas da Serra de Sintra, feitas já de noite. Chegámos ao palanque, no recinto da feira de S. Pedro de Sintra, com cerca de 1h de atraso, o que até não foi muito mau, visto que chegámos a estar 2h30 desfazados – de lamentar a 1ª etapa ter ficado com postos de controlo por picar. O jantar, adivinhem só o que foi… JARDINEIRA!!!!!! Ah! Ah! Ah!!!

Para terminar a etapa em grande, tivemos a agradável “visita” do Yellow e da Nennya, do Forum FZ, que foram felicitar a nossa chegada a Sintra com uma jolas bem fresquinhas.

 

 

A noite passada em casa soube muito bem e permitiu descansar melhor. E bem que precisámos pois a 2ª etapa foi de uma exigência que, apesar dos avisos da organização, mal dava para acreditar. Não por ter partes difíceis, não pelo estado do tempo, não pelas condições das estradas… mas pelas horas de condução que foram mais de 14h de Sintra ao Porto, sempre por serras carregadas de curvas.

E como é bom curvar! Deve ser o que maior prazer dá na condução em duas rodas; e como apaixonada pelas estradistas que sou, a perspectiva figurava-se ideal para deitar a Baby Blue. Mas estar 14h só a curvar, acreditem que é maçador.

 

Ainda antes de chegarmos a essa parte passámos mais um estradão. Este trazia já o aviso no roadbook: percurso com grandes regos. Mesmo assim decidimos fazê-lo e seguindo alguns conselhos úteis que entretanto me tinham já sido dados, consegui completar o caminho sem nenhum percalço. O mesmo não se pode dizer de uns companheiros do Forum FZ, que vinham mesmo atrás de mim e do Nuno, e que acabaram por cair e ainda fazer uns estragozinhos nas carenagens das suas Fazers. Mesmo assim, para não ficar atrás da vermelhinha, a TDM do Guilherme também quis dar o ar de sua graça e berrou a bateria.

Os “TDMianos” tiveram de nos deixar mais uma vez para procurar ajuda mecânica, desta vez estritamente da Yamaha, e lá foram em busca de uma nova bateria.

Muitos quilómetros de curvas depois, durante o almoço na Lousã, voltámos a juntar-nos. A nós juntou-se também o Gonçalo e a Rita, companheiros de equipa do Nuno, que na 1ª etapa tinham ficado a acompanhar uns amigos que entretanto tinham desistido e voltado para casa.

 

 

Foram quilómetros e quilómetros e quilómetros de curvas e mais curvas. Na opinião de muitos com quem nos cruzámos (e na nossa opinião), um exagero, pois tornou-se um percurso cansativo, maçador e exigente - era tão longo que não permitia que se fizessem paragens para apreciar a vista e tirar umas fotos.

 

Acabámos por chegar à última serra antes do Porto quando já escurecia e, em simultâneo, com um nevoeiro assustadoramente serrado – não se via meio metro a frente da mota. Não chegava a meter medo, pois a concentração para ver a mota da frente tinha de ser tal, que não deixava a mente livre para nada mais.

A vontade de chegar à Invicta era tal que decidimos saltar o ultimo posto de controlo e seguir directos da estrada de Entre-os-Rios para a Avenida dos Aliados.

 

À chegada a algazarra ainda era muita, pois a maior parte da caravana ainda estava a chegar, e a fila para o palanque fez-nos esperar ainda uma hora até recebermos o nosso diploma e estarmos dispensados para podermos ir jantar… adivinhem o quê?! Não, não era Jardineira!!! …mas podia ser! Eh! Eh! Eh!

Também aqui houve representação do Fórum FZ e assim que parámos em frente ao edifício da Câmara Municipal do Porto vi logo o ALF, que fez questão de nos informar de imediato que já tinham estado presentes outros elementos do Fórum, mas que entretanto e devido ao nosso atraso, já se tinhas ido embora.

 

 

Terminado este Lés-a-Lés, posso dizer que não tive até agora um que fosse mais ou menos difícil do que os outros.

Cada um teve a sua particularidade e é nisso que a organização prima, pois vai-nos dando a conhecer o nosso país de formar únicas, ano após ano.

O resultado é sempre positivo e aumenta sempre a vontade de viajar mais em duas rodas.

 

 

Como já referi sou e sempre fui apaixonada por estradistas, e até à pouco tempo estava completamente convencida que agora era a altura de eu ter uma “R”…mas o mototurismo anda a puxar cada vez com mais força e a vontade de ter uma mota mais versátil é cada vez maior.

 

Mas uma coisa é certa… seja na Baby Blue ou noutra Baby, para o ano hei-de estar lá de novo, pois Lés-a-Lés já ninguém me tira.

 

 

 

 

VG

10
Mai10

Crónicas em duas rodas - XIII Concentração Motogalos de Barcelos

Vera

A viagem começou na Quinta-feira, com cinco valentes cavaleiros e suas montadas: a Super Tenere que ainda ninguém sabia muito bem como se ia portar (do Nuno), a ZZR velhota que já se começa a queixar dos ossos com estas viagens e a deixar de ter força (minha), a R6 do estreante Luís que foi tirando um curso intensivo de longa-distancia/condução nocturna/andamento em grupo/e tudo e tudo (tem apenas 2 meses de carta).. e a unica representante oficial do forumFZ, a FZ-galinácea-1 do Tiago (+ a Cátia), coberta de Juremas que se foram ouvindo ao longo da viagem, ora pelos apertoes, ora pelos entalões do pneu trazeiro.

 

Eram 22h30 de quinta-feira quando os cinco valente se juntam na famosa estação de serviço de Aveiras... o mood foi temperado pela minha rabugice: "Eu não vejo a ponta de um corno, sou pitosga e não gosto de conduzir a noite, a minha mota tá esquisita e não tem força, isto não foi boa ideia, quem é que foi o chico-esperto que sugeriu virmos já esta noite?!", mas os restantes quatro foram uns bravos e cheios de paciencia aturaram aqueles 10 minutos de descarga que rapidamente se dissiparam.

Brincadeira para cá, gozo para lá, mais as Juremas a queixarem-se dos apertões, e lá nos fizemos de vez à estrada. A tensão era grande e circulava entre a pouca experiencia do Luís e a eterna questão: SERÁ QUE VÃO SALTAR MAIS RAIOS À RODA DA FRENTE DA TENERÉ?! A emoção estava ao rubro, mas tudo correu às mil maravilhas e foi por volta das 2h30 da manhã que chegámos a Tábua e pudémos gozar de uma excelente noite de descanso e despreocupações....

 

NÃO!!!! Não, não não... achavam mesmo que esta seria uma história que se digne sem ter mais aventura pelo meio?! Pois claro que não... e para isso pudémos contar com a amabilidade da Super Teneré, que gentilmente partiu o descanço assim que chegámos. O Nuno já via a vida a andar para trás , mas verdade seja dita: antes ali do que em Barcelos ou numa paragem qualquer a meio da auto-estrada. Lá se improvisou um encosto para que a montada passasse a noite de pé, e finalmente se pôde descansar.

A manhã começou cedo para alqueles que tiveram de resolver os contratempos da noite anterior, mas valeram-se da existencia de um experiente soldador da terra que deixou o material como novo. Cedo não terá começado para mim, que aproveitei para dormir mais um bocadinho, mas ainda menos para o Luís, que ficou retido no quarto devido a uns gigante toros de madeira que estranhamente surgiram encostados à sua porta - a sorte é que ele é magro e ao fim lá conseguiu passar. Obviamente que o Nuno e o Tiago estavam completamente inocentes quanto a esta situação... lol

 

Os contratempos inevitavelmente fizeram-nos perder algum tempo e o almoço que teria ficado combinado acontecer em Matosinhos foi adiado, uma vez que só chegámos à Invicta por volta das 18h00. Foi aqui, à porta de casa dos manos Lainho, que pudemos apreciar mais um momento unico proporcionado pela falta de profissionalismo dos mecâncicos que estão por aí a mexer nas nossas meninas, sem um pingo de responsabilidade e colocando em causa a nossa segurança... isto porque já 400km depois do inicio desta viagem viemos a descobrir que havia peças na ZZR que estavam sem PARAFUSOS!!! ...pausa... tentativa de não me passar da cabeça... Haze a telefonar ao mecânico já a desancar na falta de profissionalismo... respirar fundo, resolver o problema e seguir para Barcelos - estavamos já no fim da tarde e ainda havia que montar as tendas com luz!!!

 

Dali até à cidade do Galo foi um "pulinho", mas ficámos logo com o panorama geral do que viria a ser o resto do fim-de-semana: as inscrições estavam vazias, estava uma mota junto desta barraquinha, o movimento era quase inexistente, de tal modo que até ficámos com a duvida de que realmente se poderia acampar. No interior do recinto já encontramos mais alguns participantes mas nunca do modo como já tinhamos ouvido falar de anos anteriores, em que nem havia espaço para as tendas. Ora espaço era o que não faltava, o que até nos permitiu uma escolha ponderada do nosso poiso. O local é magnifico - um jardim municipal mesmo à antiga, com estatuas que já viram muitos anos passar, arvores centenárias, um ambiente diria até que mágico!

 

Tendas montadas (com coberturas de plásticos que nos lembrámos de levar perante a ameaça de chuva, e que derão um jeitão), motas estacionadas, modo concentração "on". Visitámos logo um pavilhão com representação Yamaha, e Kawasaki (wow...incrivel, não vai à expomoto, mas estava ali! ), tendinhas de tattoo e espaço para as motas do Bike Show - mas tudo numa proporção muito mini, uma vez que a concentração também é ainda muito pequena (há que aderir, pessoal, bora lá!)

 

Faltou o calor, mas de caipirinhas não sentimos falta, e foram elas que aqueceram a noite! Quanto a isso, não posso adiantar muito mais, apenas que vimos o Herman e achamos imensa piada... o resto está muito difuso na minha cabeça.. lolol

 

O Sábado foi quase para esquecer =/ ...choveu todo o dia e andámos sempre a fugir da chuva, dentro do pavilhão já mais do que visto, trocando algumas palavras com recém conhecidos e em alguma paródia. Foi depois de almoço que se juntou o grande Alf e a amiga Crinaobento, cuja companhia nos deu imenso prazer ao longo da tarde, passada numa pastelaria ali perto. =)

 

A noite, muito chuvosa, foi passada a rir à gargalhada com as toinices do Tino de Rãs, e o abardinanço do grande Jaimão. Em ambas noites não faltou o proclamado "desfile de lingerie", mas eu vi tudo menos lingerie, senti-me enganada e ultrajada por não haver "lingerie" masculina!!! Ponto negativo neste aspecto!!! =P

A surpresa da noite, surgiu durante a entrega dos prémios, ao ouvirmos "Forum FZ", pela boca do prórpio Tino de Rãs (que não largava o palco, o microfone, nem as "meninas que são tão perfeitinhas"). Pois é, os cinco valentes proporcionaram ao Forum FZ o 1º Lugar de Motoclube não federado com maior distancia percorrida.

 

O regresso foi premiado com sol (sinceramente preferia ter viajado com chuva e ter tido sol durante o evento) e, como o prometido é devido, foi já no final da viagem, perto de Aveiras, que em plena A1, voou uma Jurema!!! E foi o assinalar do final de um excelente fim-de-semana com boa companhia e bons momentos, pois apesar da chuva, o que interessa é o convívio e o espírito! E foi o comprovar autentico, pelo menos para os que estiveram presentes, que "CHUVA NÃO MOLHA MOTARD"!!!!

 

Espero que para o ano haja mais pessoal a participar, pois aqueles Motogalos merecem que o seu evento seja reconhecido, com tamanha dedicação que o realizam!!! ;)

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